sexta-feira, 30 de outubro de 2015

COMENTÁRIO ADICIONAL - LIÇÃO 5 - CPAD

CAIM ERA DO MALIGNO



Significado da palavra Gênesis: (grego) “Começo”.

O que trata o livro de Gênesis: É o livro que narra o começo de todas as coisas: da origem da raça humana (2.7,18-21), do trabalho (2,15), do pecado (3), da família (4), da bigamia (4.19), das cidades, da música (4.21).

Quem era Caim e Abel - Caim era o filho mais velho do primeiro casal, e Abel era seu irmão. Outro irmão deles que a Bíblia cita o nome é Sete, mas este só nasceu após o assassinato de Abel (Gn 4.25). Caim tornou-se lavrador, e seu irmão, Abel, era pastor de ovelhas.

Deus alertou a Caim que ele estava prestes a pecar, fazendo-lhe duas perguntas: Ao ver que Caim estava irado contra seu irmão, Deus lhe pergunta: 1º) Por que te irastes? Essa pergunta de Deus levava Caim a pensar nas suas motivações. Se parássemos para pensar no que motiva as nossas ações por certo não cometeríamos tantos pecados. No caso de Caim, a primeira coisa que ele perceberia era que sua ira estava direcionada à pessoa errada: Era Deus quem preferiu a oferta de Abel a dele. Seu irmão nada tinha a ver com isso. Caim sentiu inveja de Abel, mas se a reprovação de sua oferta veio da parte de Deus, sua ira era contra Deus, e não contra Abel.

2º) Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? Nessa pergunta Deus estava fazendo Caim refletir em suas atitudes, ao invés de culpar o seu irmão. Em outras palavras, Deus estava dizendo a Caim: “Você está agindo mal, por isso não aceitei a tua oferta”, pois, se a sua pergunta era “Se bem fizeres”, significava que ele não estava agindo bem.

Deus alertou Caim do pecado iminente (que estava pronto a acontecer), e deu-lhe a receita de como vencê-lo: “Se não agires bem, o pecado está à porta, e sobre ti será o seu desejo (do pecado), mas sobre ele deves dominar”. Duas coisas importantes retiramos dessa advertência de Deus a Caim:

1ª) Quando a pessoa age de maneira contrária a vontade divina ele vai em direção ao pecado. Por isso Deus, incansavelmente, alertava Israel a não desobedecê-lo, pois a consequência seria pecado, isto é, “errariam o alvo” que é a santificação (separação das coisas que desagradam a ele, chamada de pecado) – Hb 12.14.

2ª) Podemos dominar nosso desejo de pecar: Tiago (4.7) afirma também esta verdade, ao mesmo tempo em que dá a receita para resisti-lo: “Sujeitai-vos, pois a Deus, resisti ao diabo, e ele fugirá de vós”. Primeiramente, devemos nos sujeitar a Deus (obedecê-lo), foi aí que Caim errou feio. Deus havia lhe alertado, e mesmo assim ele foi arrogante e não ouviu a voz de Deus que lhe dizia para agir de forma correta (voltasse atrás), e ele aceitaria sua oferta. Ao não sujeitar-se a Deus o diabo encontrou campo livre para levar Caim a cometer o primeiro assassinato.  
Ao agir sob a influência da ira, Caim deu lugar ao diabo (Efésios 4.27). Assim como todo aquele que pratica o que agrada ao Adversário está dando lugar a ele (vv. 28,29).
No entanto, é importante frisarmos que, para resistir o diabo temos que, primeiramente, sujeitar-nos a Deus, pois é com ele que podemos vencê-lo (Tg 4.7).

Desde a queda de Adão e Eva o ser humano é tentado a pecar- Não nos esqueçamos de que os filhos do primeiro casal nasceram após eles haverem pecado, ou seja, já nasceram sob a influência do pecado, assim como todo o restante da raça humana (Sl 51.5).
Em 1 Co 10.13, encontramos a afirmação de que toda tentação é de procedência humana, mas Deus não nos deixa ser tentados acima do que podemos. Desde que Adão e Eva pecaram, a tentação a pecar passou a fazer parte do ser humano, e não havia problema em Caim estar irado, o problema estava na motivação dessa ira, e ainda mais, no fato dele agir sob a sua influência. Irar-se faz parte do ser humano, no entanto, somos alertados a não agir com ira – Ef 4.26. O próprio Deus se ira todos os dias (Sl 7.11), se ira porque é justo e não aceita injustiças, no entanto, em Lamentações 3.22,23 lemos que Deus age conosco com misericórdia, renovando-a a cada dia, e por isso não nos destrói. O apóstolo Paulo advertiu aos irmãos de Colossos, dizendo-lhes  que deveriam se revestir como eleitos de Deus, com entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão e longanimidade (paciência para suportar grandes ofensas). “Suportando-vos uns aos outros, e perdoando-vos uns aos outros, assim como Cristo vos perdoou” (Cl 3.12,13). Se não fizermos isso também nos tornaremos homicidas de nossos irmãos (por atos – literalmente- ou por palavras).
Somos alertados pela Bíblia de que aquele que não agir com misericórdia não pode esperar a misericórdia de Deus (Tg 2.13).

Deus deu chance a Caim de arrepender-se: Após ter cometido o crime contra seu irmão, Deus perguntou-lhe: “Onde está teu irmão?”. É claro que Deus sabia, no entanto, essa pergunta foi a porta que Deus abriu para Caim confessar-lhe, arrependido. Em Pv 28.13 observamos que, ainda na época do Antigo Testamento, era sabido pelos israelitas que a obtenção do perdão estava na confissão deles.
O mesmo Deus fez quando Adão pecou. Ao pecar o homem se escondeu porque viu que estava nu, embora Deus soubesse onde ele estava, porque ele é onisciente (sabe de tudo), ao chegar no Jardim, onde passeava pela viração do dia, Deus perguntou: “Adão, onde estás? E Adão respondeu-lhe: “Ouvi a tua voz soar no jardim e me escondi, porque estava nu”. E Deus insistiu: “Quem te mostrou que estavas nu? Comeste da árvore que eu te ordenei  não comeres?”.  Ao invés de confessar o seu pecado Adão culpou a sua mulher.
Embora Eva ofereceu o fruto proibido, Deus deixou claro que deu a ordem a Adão (leia Gn 2.16, 17).  Deus disse ao homem (a Adão), logo, requereu dele a ação do pecado, embora ele castigou todos os envolvidos. O mesmo fez Moisés com Arão quando, em sua ausência, permitiu o desejo do povo de fazer um bezerro. Embora Arão explicasse que foi o povo quem pedira, a pergunta de Moisés a ele foi esta: “Por que trouxestes sobre esse povo tamanho mal?”. Ele era o líder, e a ele cabia o permitir ou negar o pedido do povo (Ex 32. 19-21).

Por que Deus rejeitou a oferta de Caim? Primeiramente, devemos observar como foi dada a oferta de Abel, da qual Deus agradou-se. O escritor aos Hebreus (11.4) afirma que ela foi oferecida a Deus pela fé, ou seja, Abel cria em Deus, e em seus atributos, e ofertou-lhe de forma racional (sabendo a quem e o porquê o fazia). O mesmo escritor afirma (11.6) que “sem fé é impossível agradar-Lhe”.  João narra (1 Jo 3.12) que os dois irmãos tinham caráter diferentes (as obras de Caim eram más, e a de Abel justas).
O problema da rejeição de Deus não estava na oferta (Caim trouxe do melhor), mas no ofertante (o modo pelo qual ele ofertava a Deus).  A oferta dele era desprovida de sinceridade. Era algo ritualístico, desprovido de razão, sem propósito. Deus não aceita rituais vazios de significado. Tudo o que ordenava tinha um por que, por isso ele reprovou o culto dos israelitas, e em Isaías 1 ele repreende-os dizendo: “Quem vos pediu para fazer isso?” (v. 12), e em seguida disse-lhes o que ele pretendia do culto que ordenou (13-18). Paulo também exorta a Igreja a oferecer a Deus um culto (adoração) racional (com a razão), e não apenas ritualístico (Rm 12.1). Leia Isaias 29.11.
 Deus olha para o coração, e não para a aparência (1Sm 16.7), e o  coração de Caim era mau. Devemos ter cuidado com aquilo que deixamos entrar em nosso coração, pois dele procedem as boas e as más ações (Mt 12.35; Mc 7.21-23). Por isso o sábio Salomão adverte que de tudo o que devemos guardar, precisamos priorizar a guarda do nosso coração (Pv 4.23), e o salmista disse que, para não pecar contra Deus, escondeu a Palavra do Senhor no seu coração (Sl 119.11) , afinal,  se é de lá que saem todas as ações do homem, então do coração do salmista havia de sair somente coisas boas. Louvado seja Deus!

A inveja foi a mola propulsora para o crime: “E falou Caim com Abel, seu irmão”: Não sabemos que tipo de conversa era essa, se houve discussão, ou se teve briga entre os irmãos. O que sabemos é que após o primeiro assassinato até hoje as brigas nas famílias ainda existem, e em muitos casos, terminam em tragédia. Não houve um diálogo, inicialmente, mas um monólogo “Caim falou”, nada se diz a respeito da resposta de Abel. Parece que Caim era o tipo de pessoa de gênio explosivo, pessoas estas que tem dificuldade para ouvir, e esse tem sido o motivo de muitas desgraças, inclusive dentro da família (Pv 19.2; 14.29; 18.13).
A inveja foi a mola propulsora dessa tragédia humana:  Caim se irou porque Deus gostou da oferta do irmão, e não da dele. Caim abrigava em seu coração as obras da carne, dentre as quais está a inveja, e esse sentimento fê-lo agir de forma trágica contra seu irmão (Gl 5. 19-21). Ao lermos esse texto com cuidado, e compararmos com a atitude de Caim,  observaremos nele muitas obras da carne citadas pelo apóstolo Paulo.
Até hoje a inveja continua matando, de forma literal ou não.  Uma das armas mais comuns utilizadas para matar pessoas são as palavras. Tiago (3.1.5,6) diz que a língua é um pequeno membro, mas pode causar grande destruição, assim como uma faísca (um pequeno fogo) é capaz de incendiar uma grande floresta. E essa é a maneira que muitos se utilizam para ferir, e matar o próximo: denigrem a imagem do outro, ou lhe dizem atrocidades, em nome da sinceridade, quando, na realidade, ser sincero nada tem a ver com ser ignorante. O apóstolo Paulo tinha muita preocupação em esclarecer isso de forma que, em Colossenses 4.6, ele admoesta os irmãos a falar de forma polida – “A vossa palavra seja sempre agradável”. Também os exorta a não usarem palavras torpes (imorais, indecorosas, que ofendem). Da mesma forma o apóstolo adverte aos irmãos da Galácia a terem cuidado para não permitir ações da carne entre eles, de forma a viverem “mordendo-se” e “devorando-se” uns aos outros, e dentre as obras da carne Paulo inclui a inveja (Gl 5.13-16).
Os coríntios estavam enfrentando o mesmo problema: cobiçavam os cargos uns dos outros, de forma que o apóstolo Paulo teve de explicar-lhes que assim como o corpo, cada um tem um dom, e todos não podem executar as mesmas coisas, senão a Igreja seria imperfeita, como o corpo, se só tivesse um membro (1 Co 12).
A inveja levou Caim a matar seu irmão, porque o julgou como sendo o preferido de Deus. Da mesma forma aconteceu com José, que foi vendido por causa da inveja de seus irmãos. Quantos irmãos nós não temos matado com nossas línguas ferinas, ou com atitudes ásperas, por causa da nossa inveja?

Ao tratar sobre o sentimento de inveja Tiago (4) diz:
1º) Ela procede do pecado (o desejo do homem natural) – v. 1;
2º) A inveja e a cobiça contra os outros só existe porque os irmãos cobiçam, mas não pedem a quem pode dar – v. 2;
3º) Por outro lado, alguns pedem, mas pedem errado, para gastar com coisas que não agradam a Deus – v.3, 4;

Em seguida ele dá a receita para se receber o que se deseja (vv 8-11):
1º) Sujeitar-se a Deus (obedecer );
2º) Resistir ao Diabo;
3º) Chegar-se a Deus (voltar para ele);
4º) Purificar-se (santificar-se);
5º) Parar de ficar entre dois caminhos (escolher a Deus e ponto);
6º) Arrepender-se dos pecados;
7º) Humilhar-se a Deus;
8º) Não julgar os outros.

Como a Terra foi populada? Ao pecar Caim tornou-se peregrino na Terra, pois sendo agricultor dependia da terra, e esta não lhe produzia e viveria fugido, embora Deus  colocou nele um sinal para que ninguém o matasse  (Gn 4.12-16). A ordem de Deus ao primeiro casal era que se multiplicasse e povoasse a Terra (Gn 1.28). O assassinato de Abel ocorreu 130 depois de o homem ser criado. Também não devemos nos esquecer de que Adão viveu 930 anos (Gn 5.5), e nasceram-lhe filhos e filhas. Como na genealogia bíblica as mulheres não eram contadas, não se sabe quantas filhas ele teve, mas é certo que a primeira população do mundo foi gerada entre irmãos. Abraão também casou-se com sua irmã Sara (Gn 20.12). Essa prática só foi proibida anos mais tarde (Lv 18.6), no entanto, outros povos continuaram praticando o casamento entre irmãos (Lv 18.11, 24).
Deus marcou Caim com um sinal, ou deu-lhe um sinal para que ninguém vingasse a Abel, porque a vingança pertence a Deus, e não ao homem. A este a ordem é para não julgar ninguém, porque todos nós somos merecedores de castigo, porque todos nós pecamos (Rm 12.19; Mt 7.1).

Conclusão: Caim e Abel eram filhos dos mesmos pais, viviam no mesmo Paraíso, tinham recebido os mesmos princípios, no entanto, ambos tinham caráter diferente. O coração de Caim era mau, e ele recusou  dar ouvido à admoestação de Deus e sua arrogância culminou no assassinato do próprio irmão. Ele foi punido, e de sua descendência nasceram assassino, bígamo, e outras pessoas voltadas ao pecado que até  hoje empesta a humanidade (Leia Gn 4). Aprendemos dessa lição que Deus espera que confessemos os nossos pecados (1 Jo 1.9), e que podemos resistir a tentação de pecar. Também podemos observar que não matamos apenas por atos, mas também por palavras. Que Deus nos ajude a ser santos, pois sem a santificação ninguém o verá, conforme já lemos acima.



*Cohen, Armando Chaves. GENÊSIS - Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 1981.


Por Leila Castanha



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