CAIM ERA DO MALIGNO
Significado da palavra Gênesis: (grego)
“Começo”.
O que trata o livro de Gênesis: É o
livro que narra o começo de todas as coisas: da origem da raça humana (2.7,18-21),
do trabalho (2,15), do pecado (3), da família (4), da bigamia (4.19), das
cidades, da música (4.21).
Quem era Caim e Abel - Caim
era o filho mais velho do primeiro casal, e Abel era seu irmão. Outro irmão
deles que a Bíblia cita o nome é Sete, mas este só nasceu após o assassinato de
Abel (Gn 4.25). Caim tornou-se lavrador, e seu irmão, Abel, era pastor de
ovelhas.
Deus alertou a Caim que ele estava
prestes a pecar, fazendo-lhe duas perguntas: Ao ver que Caim
estava irado contra seu irmão, Deus lhe pergunta: 1º) Por que te irastes? Essa pergunta de Deus levava Caim a pensar nas
suas motivações. Se parássemos para pensar no que motiva as nossas ações por certo não cometeríamos tantos pecados. No caso de Caim, a primeira coisa que
ele perceberia era que sua ira estava direcionada à pessoa errada: Era Deus
quem preferiu a oferta de Abel a dele. Seu irmão nada tinha a ver com isso. Caim
sentiu inveja de Abel, mas se a reprovação de sua oferta veio da parte de Deus,
sua ira era contra Deus, e não contra Abel.
2º) Se bem fizeres, não é certo que serás
aceito? Nessa pergunta Deus estava fazendo Caim refletir em suas atitudes,
ao invés de culpar o seu irmão. Em outras palavras, Deus estava dizendo a Caim:
“Você está agindo mal, por isso não aceitei a tua oferta”, pois, se a sua
pergunta era “Se bem fizeres”, significava que ele não estava agindo bem.
Deus alertou Caim do pecado iminente
(que estava pronto a acontecer), e deu-lhe a receita de como vencê-lo: “Se
não agires bem, o pecado está à porta, e sobre ti será o seu desejo (do
pecado), mas sobre ele deves dominar”. Duas coisas importantes retiramos dessa
advertência de Deus a Caim:
1ª)
Quando a pessoa age de maneira contrária a vontade divina ele vai em direção ao
pecado. Por isso Deus, incansavelmente, alertava Israel a não desobedecê-lo,
pois a consequência seria pecado, isto é, “errariam o alvo” que é a
santificação (separação das coisas que desagradam a ele, chamada de pecado) – Hb
12.14.
2ª) Podemos dominar nosso desejo de pecar:
Tiago (4.7) afirma também esta verdade, ao mesmo tempo em que dá a receita para
resisti-lo: “Sujeitai-vos, pois a Deus, resisti ao diabo, e ele fugirá de vós”.
Primeiramente, devemos nos sujeitar a Deus (obedecê-lo), foi aí que Caim errou
feio. Deus havia lhe alertado, e mesmo assim ele foi arrogante e não ouviu a
voz de Deus que lhe dizia para agir de forma correta (voltasse atrás), e ele
aceitaria sua oferta. Ao não sujeitar-se a Deus o diabo encontrou campo livre
para levar Caim a cometer o primeiro assassinato.
Ao
agir sob a influência da ira, Caim deu lugar ao diabo (Efésios 4.27). Assim
como todo aquele que pratica o que agrada ao Adversário está dando lugar a ele
(vv. 28,29).
No
entanto, é importante frisarmos que, para resistir o diabo temos que,
primeiramente, sujeitar-nos a Deus, pois é com ele que podemos vencê-lo (Tg 4.7).
Desde a queda de Adão e Eva o ser humano
é tentado a pecar- Não nos esqueçamos de que os filhos do
primeiro casal nasceram após eles haverem pecado, ou seja, já nasceram sob a
influência do pecado, assim como todo o restante da raça humana (Sl 51.5).
Em 1
Co 10.13, encontramos a afirmação de que toda tentação é de procedência humana,
mas Deus não nos deixa ser tentados acima do que podemos. Desde que Adão e Eva
pecaram, a tentação a pecar passou a fazer parte do ser humano, e não havia
problema em Caim estar irado, o problema estava na motivação dessa ira, e ainda
mais, no fato dele agir sob a sua influência. Irar-se faz parte do ser humano,
no entanto, somos alertados a não agir com ira – Ef 4.26. O próprio Deus se ira
todos os dias (Sl 7.11), se ira porque é justo e não aceita injustiças, no
entanto, em Lamentações 3.22,23 lemos que Deus age conosco com misericórdia, renovando-a
a cada dia, e por isso não nos destrói. O apóstolo Paulo advertiu aos irmãos de
Colossos, dizendo-lhes que deveriam se
revestir como eleitos de Deus, com
entranhas de misericórdia, de
benignidade, humildade, mansidão e longanimidade (paciência para suportar
grandes ofensas). “Suportando-vos uns aos outros, e perdoando-vos uns aos
outros, assim como Cristo vos perdoou” (Cl 3.12,13). Se não fizermos isso
também nos tornaremos homicidas de nossos irmãos (por atos – literalmente- ou
por palavras).
Somos
alertados pela Bíblia de que aquele que não agir com misericórdia não pode
esperar a misericórdia de Deus (Tg 2.13).
Deus deu chance a Caim de arrepender-se:
Após
ter cometido o crime contra seu irmão, Deus perguntou-lhe: “Onde está teu
irmão?”. É claro que Deus sabia, no entanto, essa pergunta foi a porta que Deus
abriu para Caim confessar-lhe, arrependido. Em Pv 28.13 observamos que, ainda na época do Antigo
Testamento, era sabido pelos israelitas que a obtenção do perdão estava na
confissão deles.
O
mesmo Deus fez quando Adão pecou. Ao pecar o homem se escondeu porque viu que
estava nu, embora Deus soubesse onde ele estava, porque ele é onisciente (sabe
de tudo), ao chegar no Jardim, onde passeava pela viração do dia, Deus perguntou:
“Adão, onde estás? E Adão respondeu-lhe: “Ouvi a tua voz soar no jardim e me
escondi, porque estava nu”. E Deus insistiu: “Quem te mostrou que estavas nu?
Comeste da árvore que eu te ordenei não comeres?”. Ao invés de confessar
o seu pecado Adão culpou a sua mulher.
Embora
Eva ofereceu o fruto proibido, Deus deixou claro que deu a ordem a Adão (leia
Gn 2.16, 17). Deus disse ao homem (a Adão), logo, requereu dele a
ação do pecado, embora ele castigou todos os envolvidos. O mesmo fez Moisés com
Arão quando, em sua ausência, permitiu o desejo do povo de fazer um bezerro.
Embora Arão explicasse que foi o povo quem pedira, a pergunta de Moisés a ele
foi esta: “Por que trouxestes sobre esse povo tamanho mal?”. Ele era o líder, e
a ele cabia o permitir ou negar o pedido do povo (Ex 32. 19-21).
Por que Deus rejeitou a oferta de Caim? Primeiramente,
devemos observar como foi dada a oferta de Abel, da qual Deus agradou-se. O escritor
aos Hebreus (11.4) afirma que ela foi oferecida a Deus pela fé, ou seja, Abel
cria em Deus, e em seus atributos, e ofertou-lhe de forma racional (sabendo a
quem e o porquê o fazia). O mesmo escritor afirma (11.6) que “sem fé é impossível
agradar-Lhe”. João narra (1 Jo 3.12) que
os dois irmãos tinham caráter diferentes (as obras de Caim eram más, e a de
Abel justas).
O
problema da rejeição de Deus não estava na oferta (Caim trouxe do melhor), mas
no ofertante (o modo pelo qual ele ofertava a Deus). A oferta dele era desprovida de sinceridade.
Era algo ritualístico, desprovido de razão, sem propósito. Deus não aceita
rituais vazios de significado. Tudo o que ordenava tinha um por que, por isso
ele reprovou o culto dos israelitas, e em Isaías 1 ele repreende-os dizendo: “Quem
vos pediu para fazer isso?” (v. 12), e em seguida disse-lhes o que ele
pretendia do culto que ordenou (13-18). Paulo também exorta a Igreja a oferecer a Deus um culto (adoração) racional (com
a razão), e não apenas ritualístico (Rm 12.1). Leia Isaias 29.11.
Deus olha para o coração, e não para a
aparência (1Sm 16.7), e o coração de
Caim era mau. Devemos ter cuidado com aquilo que deixamos entrar em nosso
coração, pois dele procedem as boas e as más ações (Mt 12.35; Mc 7.21-23). Por
isso o sábio Salomão adverte que de tudo o que devemos guardar, precisamos
priorizar a guarda do nosso coração (Pv 4.23), e o salmista disse que, para não
pecar contra Deus, escondeu a Palavra do Senhor no seu coração (Sl 119.11) , afinal,
se é de lá que saem todas as ações do
homem, então do coração do salmista havia de sair somente coisas boas. Louvado
seja Deus!
A inveja foi a mola propulsora para o
crime: “E falou Caim com Abel, seu irmão”: Não sabemos que
tipo de conversa era essa, se houve discussão, ou se teve briga entre os
irmãos. O que sabemos é que após o primeiro assassinato até hoje as brigas nas
famílias ainda existem, e em muitos casos, terminam em tragédia. Não houve um
diálogo, inicialmente, mas um monólogo “Caim falou”, nada se diz a respeito da
resposta de Abel. Parece que Caim era o tipo de pessoa de gênio explosivo, pessoas
estas que tem dificuldade para ouvir, e esse tem sido o motivo de muitas
desgraças, inclusive dentro da família (Pv 19.2; 14.29; 18.13).
A
inveja foi a mola propulsora dessa tragédia humana: Caim se irou porque Deus gostou da oferta do
irmão, e não da dele. Caim abrigava em seu coração as obras da carne, dentre as
quais está a inveja, e esse
sentimento fê-lo agir de forma trágica contra seu irmão (Gl 5. 19-21). Ao lermos
esse texto com cuidado, e compararmos com a atitude de Caim, observaremos nele muitas obras da carne
citadas pelo apóstolo Paulo.
Até
hoje a inveja continua matando, de forma literal ou não. Uma das armas mais comuns utilizadas para matar
pessoas são as palavras. Tiago (3.1.5,6) diz que a língua é um pequeno membro,
mas pode causar grande destruição, assim como uma faísca (um pequeno fogo) é
capaz de incendiar uma grande floresta. E essa é a maneira que muitos se
utilizam para ferir, e matar o próximo: denigrem a imagem do outro, ou lhe dizem
atrocidades, em nome da sinceridade, quando, na realidade, ser sincero nada tem
a ver com ser ignorante. O apóstolo Paulo tinha muita preocupação em esclarecer
isso de forma que, em Colossenses 4.6, ele admoesta os irmãos a falar de forma
polida – “A vossa palavra seja sempre agradável”. Também os exorta a não usarem
palavras torpes (imorais, indecorosas, que ofendem). Da mesma forma o apóstolo
adverte aos irmãos da Galácia a terem cuidado para não permitir ações da carne
entre eles, de forma a viverem “mordendo-se” e “devorando-se” uns aos outros, e
dentre as obras da carne Paulo inclui a inveja
(Gl 5.13-16).
Os
coríntios estavam enfrentando o mesmo problema: cobiçavam os cargos uns dos
outros, de forma que o apóstolo Paulo teve de explicar-lhes que assim como o
corpo, cada um tem um dom, e todos não podem executar as mesmas coisas, senão a
Igreja seria imperfeita, como o corpo, se só tivesse um membro (1 Co 12).
A
inveja levou Caim a matar seu irmão, porque o julgou como sendo o preferido de
Deus. Da mesma forma aconteceu com José, que foi vendido por causa da inveja de
seus irmãos. Quantos irmãos nós não temos matado com nossas línguas ferinas, ou
com atitudes ásperas, por causa da nossa inveja?
Ao
tratar sobre o sentimento de inveja Tiago (4) diz:
1º)
Ela procede do pecado (o desejo do homem natural) – v. 1;
2º)
A inveja e a cobiça contra os outros só existe porque os irmãos cobiçam, mas
não pedem a quem pode dar – v. 2;
3º)
Por outro lado, alguns pedem, mas pedem errado, para gastar com coisas que não
agradam a Deus – v.3, 4;
Em
seguida ele dá a receita para se receber o que se deseja (vv 8-11):
1º)
Sujeitar-se a Deus (obedecer );
2º)
Resistir ao Diabo;
3º)
Chegar-se a Deus (voltar para ele);
4º)
Purificar-se (santificar-se);
5º)
Parar de ficar entre dois caminhos (escolher a Deus e ponto);
6º)
Arrepender-se dos pecados;
7º)
Humilhar-se a Deus;
8º)
Não julgar os outros.
Como a Terra foi populada? Ao
pecar Caim tornou-se peregrino na Terra, pois sendo agricultor dependia da
terra, e esta não lhe produzia e viveria fugido, embora Deus colocou nele um sinal para que ninguém o
matasse (Gn 4.12-16). A ordem de Deus ao
primeiro casal era que se multiplicasse e povoasse a Terra (Gn 1.28). O
assassinato de Abel ocorreu 130 depois de o homem ser criado. Também não
devemos nos esquecer de que Adão viveu 930 anos (Gn 5.5), e nasceram-lhe filhos
e filhas. Como na genealogia bíblica
as mulheres não eram contadas, não se sabe quantas filhas ele teve, mas é certo
que a primeira população do mundo foi gerada entre irmãos. Abraão também
casou-se com sua irmã Sara (Gn 20.12). Essa prática só foi proibida anos mais
tarde (Lv 18.6), no entanto, outros povos continuaram praticando o casamento
entre irmãos (Lv 18.11, 24).
Deus
marcou Caim com um sinal, ou deu-lhe um sinal para que ninguém vingasse a Abel,
porque a vingança pertence a Deus, e não ao homem. A este a ordem é para não
julgar ninguém, porque todos nós somos merecedores de castigo, porque todos nós
pecamos (Rm 12.19; Mt 7.1).
Conclusão: Caim
e Abel eram filhos dos mesmos pais, viviam no mesmo Paraíso, tinham recebido os
mesmos princípios, no entanto, ambos tinham caráter diferente. O coração de
Caim era mau, e ele recusou dar ouvido à admoestação de Deus e sua arrogância
culminou no assassinato do próprio irmão. Ele foi punido, e de sua descendência
nasceram assassino, bígamo, e outras pessoas voltadas ao pecado que até hoje empesta a
humanidade (Leia Gn 4). Aprendemos dessa lição que Deus espera que confessemos os nossos pecados (1 Jo 1.9), e que podemos resistir a tentação de pecar. Também
podemos observar que não matamos apenas por atos, mas também por palavras. Que
Deus nos ajude a ser santos, pois sem a santificação ninguém o verá, conforme
já lemos acima.
*Cohen, Armando Chaves. GENÊSIS - Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 1981.
Por
Leila Castanha
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