sexta-feira, 8 de julho de 2022

PALAVRA DO ESPECIALISTA


A DEPRESSÃO NAS LINHAS DOS VERSOS:

Análise dialógica entre o poema Nascer de Novo, de Drummond, e a Bíblia

De acordo com o Dr. Ismael Sobrinho – médico, especialista em psiquiatria e psicogeriatria, há alguns traços comportamentais em pessoas que têm incidência de depressão, dentre as quais ele destaca “o perfeccionismo, a preocupação excessiva, a baixa autoestima, a timidez e alta sensibilidade à críticas” (2019, p.34).

Sobrinho reitera que “sendo as causas da depressão multifacetadas, há a participação de componentes genéticos, psicológicos, ambientais, espiritual e neuroquímicos” (2019, p.63). No entanto, o que nos importa por ora, é compreender que a depressão existe e está em plena atividade, embora haja cristãos que insistam em negar sua ocorrência no meio dos fiéis, conforme se verifica nas palavras do citado médico:

Em mais de uma década trabalhando como psiquiatra vejo que há resistência a tratamentos por parte de alguns cristãos, ou o sentimento de culpa por acreditarem que seus episódios depressivos decorrem de pecado ou por não estarem orando o suficiente (2009, p. 55).

Contrário a esse tipo de pensamento, igualmente rejeitado pelo psiquiatra em questão, Charles Spurgeon, conhecido como o Príncipe dos Pregados do século XIX, e vítima de terríveis crises depressivas, descreveu bem a depressão e a relacionou com tipos de doenças que “afetam o cérebro e todo o sistema nervoso...”, e que, de forma involuntária, isto é, independente da vontade da pessoa, traz sobre o doente “a infelicidade da mente, a depressão do espírito e a aflição do coração (...)”.  Ele continua dizendo que pode nem haver razão real para a tristeza e, mesmo assim, “você pode vir a tornar-se um dentre os homens mais infelizes, porque, por ora, seu corpo subjuga a sua alma” (2015, p.40).

Assim como ocorreu a Spurgeon, é possível verificarmos sintomas de depressão em personagens bíblicos tais como os profetas Elias e Jonas - que pediram para morrer; em Ana – que rejeitou comer e só chorava; em Davi – que compôs inúmeros salmos falando de sua inércia diante de sentimentos depressivos; em Jó e Jeremias – que diante de tamanha dor e sentimento de inutilidade desejaram nunca terem nascido; e em Noemi – que após perder o marido e seus filhos, confessou se sentir uma pessoa amarga, isto é, sem alegria na vida.

Uma vez entendida a relevância desse assunto, vamos nos ater a esse tema apresentado pela via da literatura secular, exposto em gênero lírico, isto é, por meio de poemas. Vale lembrar que ao falarmos em poema, tratamos de um gênero textual escrito em versos e separado em estrofes - verso é cada linha de um poema, e estrofe é o conjunto de versos.

Do mesmo modo, ressalto a importância em se fazer distinção entre poema e poesia, uma vez que o primeiro se trata da estrutura do texto que é escrito em verso e “a poesia é comunicação, efetuada por meio de palavras ou não, geralmente permeada por conteúdos psíquicos, sejam eles de ordem afetiva, sensorial ou conceitual, sempre repletos de sensorialidade ou sentimentalidade” (1). Ou seja, podemos encontrar poesia em qualquer coisa que for dotada de sentimento, de emoção, de sensibilidade, inclusive nos poemas.

 Assim também é importante, ao ler esse gênero literário, não confundir autor e eu lírico – aquele é o que escreve o poema – e o outro é a voz ou o sujeito por meio de quem o autor expressa sua subjetividade. Com relação a esse sujeito poético foi que o poeta Fernando Pessoa iniciou um de seus famosos versos explicando que “o poeta é um fingidor”, isto é, nem tudo o que ele expressa no poema é de experiência própria, mas é vivido pelo eu lírico.

Uma vez entendido o que é poema e a realidade da depressão nos dias hodiernos (atuais), vamos imergir na subjetividade de Carlos Drummond de Andrade, considerado um dos maiores poetas do Brasil, e indispensável no entendimento e consolidação da escola literária denominada Modernismo. (2)

Uma das características de seus poemas é a criticidade com que ele trabalha temas diversos e a autorreflexão, ora mostrando um desencanto com a vida, ora aliando à triste realidade de viver uma receita que, ao menos, possa minimizar o torturar-se e o consumir-se que, a princípio, ele enxerga ser o ato de viver.  Como exemplo desse modo de entender a existência, segue o poema Nascer de Novo, do qual faremos uma análise comparativa fazendo um diálogo com a Bíblia Sagrada. 

Assim, façamos uma leitura cuidadosa, sentindo cada palavra do poema.


NASCER DE NOVO

Nascer, findou o sono das entranhas.

Surge o concreto,

A dor de formas repartidas,

Tão doce era viver

Sem alma, no regaço

do cofre maternal, sombrio e cálido.

 

Sondamos, inquirimos

sem resposta:

Nada se ajusta, deste lado,

à placidez do outro?

É tudo guerra, dúvida 

no exílio?

O incerto e sua lajes criptográficas?

Viver é torturar-se, consumir-se

à mingua de qualquer razão de vida?

 

Eis que um segundo nascimento,

não adivinhado, sem anúncio,

resgata o sofrimento do primeiro,

o tempo se redoura,

Amor, este o seu nome.

Amor, a descoberta

de sentido no absurdo de existir.

O real veste nova realidade,

a linguagem encontra seu motivo

até mesmo nos lances de silêncio.

 

A explicação rompe das nuvens,

das águas, das mais vagas circunstâncias:

Não sou eu, sou o Outro

que em mim procurava seu destino.

A minha festa,

o meu nascer poreja a cada instante

em cada gesto meu que se reduz

a ser retrato,

espelho,

semelhança

de gesto alheio aberto em rosa.


Nos primeiros versos, parece-me ouvir Jó, sucumbido pela dor, reclamando por ter nascido, de modo que, ao refletir sobre a realidade da vida, ele preferiu ter sido abortado a nascer (Leia Jó 3.1-23). E o primeiro verso desse poema declara que a vida é feita de dores que se apresentam de várias formas, de modo que o eu lírico, assim como Jó, se desencanta dela. Eis aí um sintoma característico de depressão, pois, sob sua influência “algumas pessoas perdem o interesse e o prazer a tal ponto que ficam apáticas, alheias ao mundo, desinteressadas, passando a apresentar vontade recorrente de morrer”, conforme assevera o Dr. Ismael Sobrinho, (2019, p.91) 

Voltando ao poema de Drummond, na segunda estrofe, o eu lírico mostra outro aspecto da vida que o deprime: a falta de resposta às suas indagações – “Sondamos, inquirimos sem resposta”. Ele pergunta por que nada é tão simples como do outro lado (no ventre materno), e torna a se perguntar se o que sobra da vida (a qual ele sente como sendo um lugar de exílio) “é tudo guerra e dúvida”. Para ele, suas indagações sem resposta, e a luta diária que se empreende pela vida, fá-lo cogitar que viver nada mais é do que torturar-se, consumir-se a procura de respostas que não existem, em outras palavras, ele possui a ideia de que viver é lutar por nada.

Será que você, leitor, se sente ou já se sentiu desse modo? Creio que todos nós já vivenciamos decepções na vida que nos fizeram indagar o seu sentido real. Isso é refletir, é ter consciência, é ser humano. O perigo acontece quando esses sentimentos tomam conta de nós e nos deixam apáticos com a vida, muitas vezes, pensando em desistir dela. Esse pensamento é perigoso e é necessário buscar ajuda, inclusive psicológica.

Mais adiante, o poema dá uma girada na direção oposta ao que começou, pois na terceira estrofe o eu lírico vivencia uma nova experiência de vida. Ele se sente como se nascera de novo. Sobre esse novo nascimento, ele diz que aconteceu como no primeiro, sem que ninguém soubesse ao certo o momento exato. No primeiro nascimento, após o parto, seu protesto é em relação a sair do conforto do silêncio e da inocência de quem nada sabe, ao desligar-se da mãe cujo ventre o guardava em segurança, e adentrar em uma vida de incertezas.

Ao nascer de novo, é como se ele encontrasse novamente alguém a quem se ligar para encontrar a estabilidade perdida pelo parto, reencontrando o conforto de não estar só na vida. Segundo o poema, esse renascimento não aconteceu de forma literal, mas foi gerado pelo sentimento chamado AMOR. Bem diz a Bíblia que “o amor é o vínculo da perfeição” (Leia Cl 3.14). Ele nos liga a tudo que é bom e perfeito.

Uma vez amando, a atenção do eu lírico não está mais em si mesmo, mas no objeto amado, isto é, na pessoa a quem ama. Ele afirma não ser mais ele, mas o outro que procura encontrar nele o seu destino. Nessa nova realidade o eu lírico encontra sentido em viver,  embora não compreenda a vida por inteiro, “a linguagem” – as palavras – “encontra seu motivo, até mesmo no silêncio”, confessa ele. Afinal, o amor é expresso pelo sentimento e não por palavras, de modo que sua realidade pode ser sentida mesmo sem ser compreendida. 

O sentimento que ele experimenta é suficiente para lhe dar um novo significado para a vida. E, por amar, ele passa de ser pensante a sujeito atuante, de modo que ele diz renascer em cada gesto seu “que foi reduzido a ser retrato, espelho e semelhança de gesto alheio aberto em rosa”. Nessa nova realidade, o eu lírico  vive para o outro, e suas emoções são proporcionadas à medida que o outro se satisfaz, uma vez que se sente responsável pela completude alheia.  

A Bíblia há muitos séculos já afirmava que podemos ter uma nova vida mesmo nessa existência, que é possível nascermos de novo por meio de uma vivência regida pelo amor. João, em sua primeira carta, admoestou os irmãos a não se esquecerem que desde o princípio a mensagem pregada foi amarem-se uns aos outros, e conclui sua admoestação declarando o seguinte: “Sabemos que já passamos da morte para a vida e sabemos isso porque amamos nossos irmãos. Quem não ama ainda está morto” (3.14) - grifo meuPercebeu quanta verdade está implícita no texto do poema? Amar, segundo Jesus, é estar pronto para dar a vida pelo outro.

Embora já saibamos que são diversas as causas da depressão, algumas pessoas estão sofrendo desse mal por causa do seu egoísmo exacerbado, de querer para si aquilo que é do outro ou em viver uma vida de comparação e disputa que acaba por levá-lo a sentimentos de humilhação e baixa autoestima.  Talvez você seja uma dessas pessoas que, assim como o eu lírico do poema de Drummond, vive maldizendo a sorte porque seu pensamento está muito concentrado em si mesmo e, por isso, não consegue ver a beleza da vida fora dos teus próprios interesses.

Sendo esse o caso, Jesus te faz o mesmo alerta que fez a Nicodemos quando este foi procurá-lo: "É necessário nascer de novo”. Esse nascimento não é da carne, como explicou Cristo, mas uma vida no Espírito de Deus. Em Cristo, somos capazes de amar até os nossos inimigos, e, por certo, com a visão carregada do amor divino, você será capaz de enxergar a vida exatamente como uma rosa, flor esta citada no final desse magnífico poema: apesar de ser cheia de muitos e pontiagudos espinhos, ela traz consigo beleza e perfume singulares. 

Pois bem, leitor, esse é o papel da literatura lírica, fazer surgir e expor os sentimentos, percepções, incômodos, medos, indagações, alegrias, paixões, e nos fazer refletir para arrancar de nós o que nos faz seres humanos: a subjetividade escondida em nosso eu interior.

Que a graça de Deus e o amor de Cristo sejam transbordantes em teu coração, fazendo-te bênção para os que procuram em você encontrar o seu destino. 

08/7/2022


BIBLIOGRAFIA

ANDRADE, Carlos Drummond de. A paixão medida. 5 ed.- Rio de Janeiro: Record, 1998

ESWINE, Zack. A depressão de Spurgeon: esperança realista em meio à angústia. São José dos Campos, SP: Fiel, 2015 

SOBRINHO, Ismael. Depressão: o que todo cristão precisa saber. São Paulo: Editora Vida, 2019

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Notas de rodapé

(1) https://mundoeducacao.uol.com.br/literatura/o-que-poesia.htm

(2) https://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/por-que-carlos-drummond-e-tao-importante-para-a-literatura-brasileira.htm

          

 

Professora Leila Castanha 

Graduada em Letras, Pedagogia, Bacharela em Teologia, pós-graduada em Língua Portuguesa e Literatura no contexto educacional, pós-graduanda em Teologia e Pensamento Religioso, pós-graduanda em Literatura Brasileira no Contexto da Literatura Universal . 

Atua como professora de Língua Portuguesa, Língua Inglesa (anos iniciais do ensino fundamental) e Ensino Religioso, em São Paulo - SP 

  

 


Em seus passos: estudos bíblicos

Ponderações da alma: crônicas e poemas

PALAVRA DO ESPECIALISTA

Depressão como consequência da racionalidade e os caminhos para amenizá-la


Imagem extraída de saude.abril.com

Diferentemente dos demais animais direcionados por instintos absolutos, que orientam e determinam seu agir e querer, o ser humano pensa sobre si mesmo, valida ou invalida seus instintos e pondera sobre a realidade concreta e o mundo possível. Esse ser distinto, não controlado pelas determinações instintivas, desenvolve desejos, estabelece metas; anseia. Esse ser pensa. Apesar da influência social, seu pensamento não se limita às determinações psíquicas de sua espécie ou de sua raça. O homem, como indivíduo dotado de liberdade, curiosidade, criatividade e desejo, almeja relações ou coisas a partir de sua subjetividade, de sua interioridade, amiúde, independente de quaisquer convenções coletivas ou influências sociais diretas. O indivíduo humano processa suas experiências existenciais interpretando-as. Tal interpretação nem sempre se dá com a clareza racional, regularmente se realiza amalgamada com emoções. Sendo de tal forma distinto, o animal humano sofre, pois, em sua subjetividade, se fazendo um "eu" não aderido ao coletivo, não se satisfaz com as convenções, não se contenta com o estabelecido, em sua peculiaridade de “ser um si mesmo”, em suas aspirações únicas, singulares, percebe-se deslocado.

As intrínsecas e peculiares características do homem fazem dele um ser com potencial à depressão. De acordo com o site Biblioteca Virtual em Saúde:

A depressão é uma doença que se caracteriza por um período mínimo de duas semanas em que a pessoa se sente triste, melancólica ou “para baixo”, com sensações de aperto no peito (angústia), inquietação (ansiedade), desânimo e falta de energia. O indivíduo permanece apático, perde a motivação, acha tudo sem graça ou sem sentido, torna-se pessimista e preocupado. Tal estado afeta o organismo como um todo e compromete o sono, o apetite e a disposição física.[1]

Um ser que pensa por si, que estabelece ideias sobre o bem e o mau, sobre o adequado e o inadequado, sobre o ideal e o imperfeito, a partir de sua interpretação da realidade estabelece expectativas sobre sua vida, essa expectação se faz um dos fatores de maior potencial para o desenvolvimento da depressão. Um ser que almeja, é em potencial um ser que se frustra. Um sujeito que avalia, em potencial, não é apenas alguém que qualifica o outro, o objeto externo, mas um indivíduo que tende a cobrar-se. Uma pessoa que idealiza a realidade a partir de um quadro comparativo, tem uma forte tendência a se entristecer por perceber que sua vida ou o seu ser não alcançam o nível ou o status do objeto ou de uma condição existencial eleitos como adequados.

O Livro Sacro dos judeus, chamado de Antigo Testamento pelos cristãos, expõe a fragilidade emocional desse ser que desenvolve expectativas, se frustrando com o não estabelecimento daquilo que considera assaz importante, mesmo tendo, em sua literatura, vários desses homens considerados heróis. Em uma explícita situação de melancolia, um dos traços marcantes da depressão, o livro de juízes, pertencente à coleção bíblica judaico-cristã, apresenta Gideão, um dos notáveis homens da Bíblia, frustrado com Deus, pois sua crença e esperança em uma divindade intervencionista a favor de seu povo, em prol de sua nação, não se concretizou. A partir da fala de um mensageiro, de que Deus era com ele, o herói frustrado com a não concretização de sua expectativa, em estado depressivo, responde: “se o Senhor está conosco, por que aconteceu tudo isso? Onde estão todas as suas maravilhas que os nossos pais nos contam quando dizem: ‘Não foi o Senhor que nos tirou do Egito?’ Mas agora o Senhor nos abandonou e nos entregou nas mãos de Midiã”.[2]

Na passagem em destaque, o estado de prostração e de pessimismo de Gideão é de fácil identificação. O homem e mulher, que mentalmente estipula situações corretas ou incorretas, favoráveis ou desfavoráveis, justas ou injustas, ao se deparar com o que ele ou ela entende como realização negativa, como quadro adverso, entra no estado melancólico, de acentuado pessimismo, ao qual chamamos de depressão. Ainda envolvido no mesmo diálogo com o mensageiro de Deus, que afirma que seu Senhor estaria com ele na missão de libertar o seu povo da opressão introduzida pelos inimigos midianitas, o depressivo Gideão continua em tom de descrença: “Ah, Senhor", respondeu Gideão, "como posso libertar Israel? Meu clã é o menos importante de Manassés, e eu sou o menor da minha família”.[3] Essa nova resposta revela a baixa autoestima, sentimento negativo sobre si mesmo, que impede de o indivíduo perceber em si qualidades ou potencialidades, um dos sintomas de alguém que está em depressão ou a desenvolvê-la.

A filosofia estoica apresenta duas virtudes que ajudam a proteger o ser humano da depressão. A aphateia, ou ausência de paixões e a resignação, isto é, aceitação ao inexorável, ao que não pode ser mudado, ao inevitável.  Quanto menos paixão pelas coisas, mais desapegados somos, menos sofremos, porque menos esperamos, assim, nutrimos menos expectativas. Ademais, se somos resignados sofremos menos porque aprendemos a aceitar o já estabelecido em nossas vidas ou em nossa realidade. Aprendemos aceitar o que não depende de nossos esforços para ser evitado. Porém, a proposta estoica não elimina a pergunta: como alcançar as destacadas virtudes? Está em nosso poder alcançá-las. O nosso desejo de alcançar a resignação ou a aphateia garante a sua realização?

O cristianismo antigo apresenta direções que, apesar de não invalidar a proposta estoica, apresenta um outro sentido para o apaziguamento da alma: “Eu disse essas coisas para que em mim vocês tenham paz. Neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo”.[4] Se é um fato de que na existência somos confrontados com a dureza do mundo, afrontamento esse que pode nos levar à depressão, sob outra perspectiva, podemos olhar para o triunfo de Jesus como inspiração, e inspirados nele temos a força suficiente para triunfar, vencendo as aflições que, por vezes, nos esmorecem. Em Cristo temos a certeza de que firmados em seu triunfo, também podemos triunfar. O salmista Davi, em um dos salmos mais belos, poetiza: 

 

O SENHOR é o meu pastor, nada me faltará.
Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente a águas tranquilas.
Refrigera a minha alma; guia-me pelas veredas da justiça, por amor do seu nome.

Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam. [...]

Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na casa do Senhor por longos dias.

Essa bela poesia apresenta o estado de paz vivenciado por um indivíduo que, apesar de passar por situações difíceis e extremas, revela a segurança e conforto de alguém que nutre uma relação com Deus.

A razão e a criticidade são fundamentais para o desenvolvimento do homem, sem essas ferramentas racionais, seguramente estaríamos em um estágio intelectual primitivo, porém, como diz Jesus, nem só de pão vive o homem. É indubitável que a praticidade e a racionalidade da vida objetiva são muito importantes para o desenvolvimento do homem, para o seu aperfeiçoamento, para o estabelecimento de estruturas que possibilitaram maior conforto para a vida, porém, o aspecto prático e objetivo não esgotam a vida humana e as necessidades do homem. A ciência, a psicologia e as disciplinas humanas como a filosofia e a sociologia, apresentam importantes reflexões para o problema da depressão, ponderações que devem ser seriamente consideradas. Porém, os problemas do homem e da mulher também podem ser abordados por outros prismas. Todo cristão assume que o homem em sua integralidade é uno em corpo e alma. Com essa múltipla dimensão de una composição, o cristianismo aponta outras respostas para a angústia do homem, e nessa resposta apresenta a necessidade de o indivíduo humano se relacionar com o transcendente, com Deus. Nessa relação ele pode encontrar um novo sentido para a sua existência, diminuindo a ansiedade promovida pelo desejo exacerbado de pertencimento, de satisfação estética, de aceitação social ou mesmo de um individualista desejo de justiça limitado pelo egocêntrico desejo de autossatisfação, que não contempla a profundidade da justiça ideal. Em Cristo, vencer o mundo é o estabelecimento do triunfo sobre o que é danoso ao ser humano. A depressão é um dano ao ser humano. Todo homem e toda mulher devem se sentir convidados a buscar a cura em Cristo e em sua palavra inspiradora que promove vida, pois essa angústia pode ser apaziguada pela fé, pela relação do homem com Deus. 

07/07/22




Prof. Lailson Castanha
Graduado em Filosofia. Atua como professor nessa disciplina para o Ensino Médio. São  Paulo - SP


Acesse os links abaixo e conheça melhor as reflexões filósoficas desse professor e seu olhar sobre  outros temas  .
                      



[1] MORENO, Ricardo. Temas em psiquiatria. IPq HCFMUSP, 2016. Disponível em: http://neurociencias.org.br/temas-em-psiquiatria/. Acesso em: 07 jul. 2022.

[2] BÍBLIA ONLINE. Juízes 6:13. Disponível em: https://www.bibliaonline.com.br/nvi/jz/6/. Acesso em: 07 jul. 2022.

  

[3] BÍBLIA ONLINE. Juízes 6:15. Disponível em: https://www.bibliaonline.com.br/nvi/jz/6/. Acesso em: 07 jul. 2022.

  

[4] BÍBLIAON. JOÃO 16: 33. Disponível em: https:// https://www.bibliaon.com/joao_16/. Acesso em: 07 jul. 2022.