A UM PASSO DO PARAÍSO
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Na Bíblia, não há menção a um estágio intermediário entre céu e
inferno, mas a tradição católica diz que os vivos podem ajudar os mortos a entrar no céu.
Católicos
e protestantes divergem a respeito da existência do purgatório. Como a Bíblia não é explícita, inexiste uma
concordância sobre a questão. De acordo com a doutrina católica romana,
purgatório é o lugar ou a condição em que permanece a alma de uma pessoa que
morreu em estado de graça, mas não pode estar totalmente purificada dos pecados.
É necessária uma etapa intermediária de purificação antes de se chegar ao céu. Segundo
os católicos, essas almas podem ser auxiliadas pelos fiéis vivos, por meio de
orações, indulgências, sacrifícios e outros atos piedosos. A ideia de
purgatório, no entanto, é negada pelas igrejas protestantes e parte das
ortodoxas, que afirmam que não há na Bíblia menções sobre o tema.
Uma
das imagens mais famosas de purgatório na literatura é o da Divina Comédia, de Dante Alighieri. No cenário descrito na obra do poeta
italiano, que trata também do inferno e do paraíso, o purgatório é constituído
de uma montanha altíssima, que surge do mar. Nessa montanha, estão encravados terraços
circulares, onde as almas cumprem suas penas e suas provações, correspondentes
aos pecados praticados em vida. Só depois disso são admitidos no paraíso. O primeiro
terraço é o dos orgulhosos; o segundo, dos invejoso; o quarto, dos preguiçosos;
o sexto, dos gulosos; e o sétimo, dos luxuriosos.
A
obra de Dante foi escrita durante a Idade Média. Nesse período, a ideia de
purgatório ganhou força dentro da Igreja Católica. Foi com base nos concílios de
Lyon, em 1274, de Florença, em 1439, e de Trento, no período da Reforma, que a
existência do purgatório passou a ser pregada pelo Catolicismo. Segundo o
teólogo Márcio Fabri, professor da Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa
Senhora da Assunção, em São Paulo, a doutrina do purgatório não é acentuada com
a mesma ênfase nos tempos atuais e a tensão sobre as questão entre católicos e
protestantes já foi em boa parte ultrapassada, só sendo mantida entre grupos
mais conservadores. A questão de fundo,
no entanto permanece.
“A
polêmica sobre o purgatório envolve uma questão da humanidade: como se livrar
das culpas e imperfeições, para gozar de uma paz total”, afirma Márcio. De
acordo com o teólogo, outras religiões também tratariam da mesma questão,
embora de outros modos. A reencarnação seria uma dessas formas. Aparece, por
exemplo, no Espiritismo e no Hinduísmo. “No fundo, a humanidade tem dois grandes
caminhos para lidar com os pecados e imperfeições. Um é culpando as faltas e
fazendo pagar por elas. Outro é abrindo um horizonte de oportunidades para
aprender a sabedoria capaz de garantir perfeição e felicidade.”
Por Lia Hama
(Revista
das Religiões – o mundo da fé – edição 1, junho 2004).