quinta-feira, 13 de agosto de 2015

LIÇÃO Nº 7 - 3º TRIMESTRE DE 2015




COMENTÁRIO ADICIONAL



O MILAGRE DA PORTA FORMOSA

1A hora nona: No calendário judeu o dia é dividido em 12 horas (Jo 11.9), sendo a parte do dia dividida da seguinte maneira: Primeira hora iniciava-se no levantar do sol; Terceira hora iniciava-se as 9 horas; Sexta hora iniciava-se ao meio-dia e Nona hora era a partir das 3 horas da tarde.

Quem era Pedro e João? (At 2.42-47). Dois apóstolos de Cristo, que após sua ascensão pertenciam a uma igreja sem placas, mas que perseverava na doutrina dos apóstolos, na comunhão, e no partir do pão, e nas orações. Partilhavam de tudo no templo e nas casas dos irmãos, com humildade. Estes crentes nada tinham de religiosidade, mas viviam um autêntico cristianismo: Eram, de fato, seguidores de Cristo. Como seguidores, imitavam o seu Mestre. Em João 9.1-7 temos o registro do episódio de um cego de nascença o qual Jesus curara, no entanto, antes de realizar esse milagre Cristo ensinou aos seus discípulos: “Enquanto estou no mundo sou a luz do mundo.” (v.5), e em seguida curou o cego. Estes crentes procuravam brilhar como luzeiros que indicavam o Caminho para Deus, que era Jesus Cristo. E essa lição deve ser aprendida por nós, cristãos hodiernos, que ainda estamos no mundo, e nele devemos ser a luz a iluminar as trevas onde jaz o pecador, a beira do abismo.

Cristo os exortou a ser a luz do mundo: Jo 8.12;  Mt 5.14; Jo 15.14. Aqueles crentes haviam entendido que ser cristão é seguir (imitar) a Cristo. Jesus nunca se mostrou indiferente aos sofrimento de alguém, fosse por doença, perdas ou preconceitos. Ex. A viúva de Naim; Marta e Maria na morte de Lázaro; A mulher que derramou perfume nos seus pés; A samaritana; os publicanos; a Zaqueu e o demais publicanos; ao ladrão da cruz, etc. A Igreja de Cristo, tem por missão amparar os rejeitados (Tg. 1.27;Jo 6.26; 7. 24).

Não se pode esconder a luz: Em Mt 5.14-16 Jesus chama a atenção dos seus discípulos dizendo-lhes que não há sentido acender-se uma lâmpada e escondê-la (v.15). A luz só tem utilidade onde há treva, pois em um lugar claro não há necessidade dela. Quando ficamos querendo brilhar somente dentro da igreja, entre os irmãos não estamos sendo úteis, Jesus nos chamou para iluminar o mundo que está sob as trevas do pecado.

Exemplo prático: Certa ocasião eu estava em uma igreja e, após o término do culto, alguns irmãos manifestaram ao pastor seu desejo de evangelizar e visitar alguns irmãos em suas casas, juntamente com ele. O pastor então lhes respondeu: “Não posso porque quando não há culto em nossa igreja eu visito outras”. 
Esse servo de Deus não compreendeu ainda a importância de sua missão. Assim como o general Patton (EUA), que, segundo a história, lutou na segunda guerra , mas em um determinado tempo ele passou a amar a guerra pela guerra. Do mesmo modo, há muitos cristãos que amam a obra pela obra, mas não compreendem qual é o objetivo dela: Amam pregar, orar, cantar, jejuar, mas não amam a misericórdia, conforme exorta Miquéias (6.8). Não se preocupam com os necessitados (Tg 1.27), e não se importa com os perdidos (Lc 9.10).
A Igreja tem que ser o pronto-socorro de Deus. Tem que ter sempre médicos e enfermeiros a postos, pronto para aliviar as dores, e curar as feridas, físicas e emocionais, porque se não fizermos os bares e os becos de drogas tomarão o nosso lugar, com suas esmolas, que todos os dias, os desiludidos irão buscar. E mais do que isso, ainda tem que ter socorristas externos, a exemplo dos paramédicos que vão até as vítimas, quando estas correm perigo, podendo não ter tempo de chegar ao hospital com vida, ou em condições razoáveis para continuar o atendimento hospitalar.
A porta chamada Formosa: Em Jerusalém havia várias portas, segundo lemos em Neemias 3, que fala de doze. No templo que Pedro e João estavam indo para orar, havia uma porta chamada Formosa. Ela tinha cerca de 25 metros de altura e era coberta de ouro e de prata.  Essa porta levava a outra que dava acesso ao pátio das mulheres no templo de Salomão, e  por meio dela adentrava-se ao pátio do Santuário, e posteriormente, ao lugar santíssimo, onde somente o sumo sacerdote podia entrar.
Só os cristãos podem fazer o seu trabalho: Pedro e João estavam indo ao templo e depararam-se com esse mendigo, que era coxo de nascença, e todos os dias alguém o levava para mendigar naquele local. Ele contava com a ajuda de amigos, mas o máximo que aqueles podiam fazer era levá-los a porta (perto da bênção), porque só os servos de Deus podiam lhe dar uma nova chance de vida, pelo poder do nome de Jesus. Ele só entrou no templo junto com Pedro e João. Quantas pessoas que fazem excelentes e belos trabalhos de caridade, mas não conseguem encher o coração dos seus beneficiados de alegria e de paz. Trazer as pessoas para dentro da bênção é trabalho da Igreja.
Aquela porta era um local estratégico para se levar um mendigo porque para os judeus ortodoxos dar esmolas era um ato que lhes rendia prestígio.  Todos os dias o coxo via religiosos entrando e saindo, alguns lhe davam uma esmola e iam embora, no entanto, apesar das esmolas lhe ajudarem não resolvia o seu problema, pois sendo coxo, o seu destino era mendigar para sempre.
Mas, quando Pedro e João subiram as escadas do templo eles perceberam que aquele homem precisava de algo mais: Aquele coxo precisava ser liberto daquela prisão a que estava condenado. Ele precisava não de uma ou de mil moedas, mais de uma mudança radical de vida. Assim como Cristo, que repreendeu a multidão que ia atrás dele só para comer, os dois discípulos tinham consciência que se aquele coxo recebesse esmolas somente, mas não tivesse a ação sobrenatural do Espírito em sua vida, da mesma maneira que quem come o pão material,  depois torna a ter fome, dia após dia, aquele homem iria voltar à sua miséria. Então “Pedro, com João, fitando os olhos nele disse: Olha para nós.” O homem esperava que fosse ganhar alguma coisa, afinal eles iam para o templo, eram religiosos. E Pedro continuou: “Não tenho prata nem ouro (bens materiais), mas o que tenho (bens espirituais), isto te dou: Em nome de Jesus Cristo, levanta e anda” – At 3.4-6).
Pedro e João precisavam crer no que faziam – Mc 16.17 “Estes sinais seguirão aos que crerem: Em meu nome (...) curarão os enfermos (...)”. Pedro, no início de sua fé era um crente vacilante: Sua fé oscilava o tempo todo. No episódio em que ele pede a Jesus para andar sobre o mar, ao sentir o vento forte (formando ondas sob os seus pés), ele teve medo e começou a afundar. Ao gritar por socorro, Jesus o salvou e disse-lhe: “Porque duvidastes? Homem de pequena fé” (Mt 14.25-31). Em outra ocasião ele promete que se fosse preciso ele seria preso ou até morreria com Cristo, no entanto, ele estava disposto a matar os soldados que foram prender Jesus, mas não a morrer com ele. Marcos narra (15.53,54) que Pedro o seguia de longe, e no pátio do lugar onde Jesus estava Pedro sentou-se quietinho, mas alguns o reconheceram (pois ele vivia o tempo todo ao lado de Jesus), e sua reação, diferente do que dissera antes, foi negá-lo. Ao lembrar-se da previsão de Cristo sobre a sua inconstância (três vezes você me negará), Pedro chorou.
A verdade era que Pedro amava a Cristo, mas não era convertido (Lc 22.32). Converter é mudar, e Pedro tinha de mudar a sua maneira de pensar e agir. A valentia do crente é diferente da do mundo, “porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim contra as os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais”.(Ef. 6.12). O mundo tem coragem de dar o troco, o crente tem que ter coragem para dar o outro lado e perdoar. O mundo tem coragem de reagir à afronta, o crente tem que ter coragem para ser manso diante das injustiças. Pedro era coragem, mas nos termos do mundo, no entanto, após ser cheio do Espírito Santo sua ousadia foi direcionada para o mundo espiritual: Exatamente o que Jesus queria que ele entendesse, ao dizer: ”Quando te converteres...”.
O coração de Pedro e João não estava nas coisas daqui, diferente do que temos observado em nossos dias, como há igrejas que se enchem devido a promessas de conquistas materiais: carro, casa, casamento e muito dinheiro no banco. No entanto, Jesus exortou aos seus discípulos que buscassem primeiro o Reino de Deus, e tudo o que precisassem lhes seria providenciado. Em seguida, concluiu: “Porque onde estiver o vosso tesouro ali estará o vosso coração”.
O Evangelho de Cristo não é de ajuntamento de tesouros terrenos, mas é baseado na coragem de renunciar o que vemos e compreendemos no nosso mundinho, em troca de algo que o olho não viu, e nunca subiu ao coração do homem (Lc 14.33; 1 o 2.9). Devemos renunciar não só a matéria (coisas visíveis), mas também o nosso modo de ver o mundo e as pessoas, porque Jesus deixou claro: “O meu Reino não é deste mundo”. (´Jo 18.36). Temos que ver pela fé, como Moisés que cria na promessa de Deus de que libertaria o povo de Israel “como quem via o invisível” (Hb. 11.27).
.O crente tem que fazer a diferença: Imagine se Ester não fizesse nada pelo seu povo porque temia ser morta ao ousar falar com o rei sem ser chamada? Os judeus estariam extintos. Foi a fé, que levou àquela mulher a ter ousadia, e deu-lhe coragem para utilizar-se da oportunidade de ter acesso ao rei, ainda que fosse a única coisa que fizesse em sua vida – Ester capítulos 4 e 5. Também foi a fé aprendida em sua terra natal, que fez a garotinha judia que fora levada como escrava para a Síria, e ali servia à mulher do general Naamã, falar que em Israel havia um profeta de Deus chamado Eliseu, e que se seu senhor fosse até ele seria curado de sua lepra.  Apesar de Naamã ser poderoso em sua terra, a fé da menina lhe deu ousadia de testemunhar do poder do Deus de Israel. Pense em Neemias com medo de Sambalate e Tobias, recuando na construção do muro, mas, ao contrário disso, ele pediu força a Deus e não parou até concluir a obra.  
O coxo olhou para eles esperando receber alguma coisa, talvez porque, sendo eles religiosos, era correto ajudar. O que nós temos para oferecer para o mundo? Só palavras bonitas e frases feitas? Tiago diz que a fé sem as obras é morta, por isso de nada adianta dizer a quem passa fome ou frio: “Vai em paz”, sem antes alimentá-lo e agasalhá-lo (Tg 2. 14-17). Jesus, nunca deixou ninguém sair de seus sermões com fome (Mt 14.13-21). Somos a religião do lero-lero, a igreja das teorias, mas a prática, que autentica a fé, nos tem faltado!
Exemplo prático: Um jovem de determinada igreja saiu pelas ruas, convidando os transeuntes (especialmente jovens) a irem assistir a uns cultos em sua igreja. Ele dizia-lhes que em um determinado dia era culto para quem queria milagres, em outro, o culto era a favor de prosperidade financeira, e em outro dia era para comunhão (haveria uma baladinha na igreja e, por isso,  podia-se fazer amigos). Mas, em nenhum momento apresentou o dia para quem queria, simplesmente, encontrar a Jesus. O tempo todo foi apresentado trabalhos que visavam as necessidades materiais do homem, mas se esqueceram do principal: Nossa necessidade de salvação, isto é,  de comunhão com Deus, só Cristo preenche.

Exemplo prático: Em certa ocasião, congreguei em uma igreja na qual não estava mais comportando o número de pessoas no trabalho de Escola Dominical. Então pedi ao pastor para ver se conseguíamos permissão para levar nossas classes para uma escola pública que ficava próxima à igreja. Ficamos lá por, mais ou menos, dois meses, e comecei a ouvir reclamações de alguns obreiros dizendo que não era um bom lugar para pessoas de família cristã frequentar, por ser um lugar onde havia muita gente não crente (inclusive alguns usuários de drogas), que, aliás, apoiavam muito o trabalho e, alguns deles, inclusive, manifestaram o desejo de assistir aos ensinamentos conosco. Argumentei com tais pessoas sobre a ordem de Jesus que determinava que seus discípulos fossem fazer discípulos e fossem pregar o Evangelho. Tentei explicar-lhes que não se pesca em aquário, mas para pescar tem que ir aonde tem peixes. Lembrei-lhes que Jesus ensinou que o campo é o mundo, e não o interior de um templo. O templo é o nosso quartel general, onde os soldados de Cristo se preparam, revestindo-se das armaduras sagradas e organizando-se como exército, esquematizando, sob a direção do Espírito, nossa tática de ataque. A Igreja é lugar de nos preparar, como Igreja, e levar os refugiados dessa guerra contra o Inimigo.
O pastor argentino, Juan Carlos Ortiz, ironiza tais óticas anticristãs dizendo  que, ao invés de cantarmos: “Vem já, vem já, alma cansada vem já”, devíamos cantar: “Vão já, vão já, ó assentados vão já!”. Porque a ordem de Cristo é “Ide”.

Cristianismo é uma religião de prática- Jesus repreendeu os fariseus de seu tempo dizendo-lhes que eles eram cuidadosos em cumprir rituais internos, mas se esqueciam da verdadeira missão, que consistia em amar o próximo, pois davam o dízimo de tudo, mas não ajudavam os necessitados, quando deviam fazer isto, sem desprezar aquilo (Mt 23.23).
Talvez queremos Deus como nosso gênio da lâmpada: Ele deve ser tudo para nós, mas não tudo em nós. É por isso que o citado pastor comenta, em seu livro, que muitos pastores, durante o culto, fazem tudo pensando no povo: Cantam em pé, depois sentados, alternam o culto com testemunhos, depois oração, etc , para não cansar o povo. Nossa visão está limitada ao terreno, pois onde o Espírito Santo está todos ficam presos e fascinados pela sua presença, e nem sentem a hora passar.
É por causa de nossa falta de vivência cristã que nossas igrejas se enchem com a mesma rapidez com que esvaziam: Buscamos auditório, enquanto as pessoas que adentram o templo buscam uma família. Sem amor, não há cristianismo, veja a ordem de Cristo aos discípulos (Jo 15.17).

Precisamos de crentes convertidos: Pedro amava a Jesus e estava nele, no entanto, não podia dizer como o apóstolo Paulo: “Cristo vive em mim” (Gl 2.20), porque isso só acontece quando nós estamos crucificados com Ele. Precisamos estar em Cristo, e Cristo em nós  (Jo 15.4,5).

O materialismo tem tomado o coração dos cristãos: Conta-se que, certa vez o papa mostrou a Tomás de Aquino a igreja toda coberta em ouro, e luxuosamente adornada, e disse-lhe: “Olhe isso, Tomás! Hoje não podemos dizer como Pedro: Não temos prata, nem ouro.”. Em seguida, enquanto olhava para aquele luxo, Tomás de Aquino respondeu-lhe: É verdade, mas também não podemos mais dizer: “Em nome de Jesus, levanta e anda.”

2Em nome de Jesus, foi a expressão usada por Pedro ao ordenar o milagre. Pela autoridade do nome de Cristo, o homem foi restaurado, mas como nunca havia andado, Pedro o ajudou a ficar de pé. Diferente de muitos cristãos atuais que acham que o novo convertido tem que se virar sozinho. É por isso que perdemos tanta gente, pois assim como um bebê não tem condições de se manter sozinho, um novo convertido é um bebê na fé, e vai precisar que a Igreja lhe sustente, primeiro, com o leite espiritual, e aos pouco, vai lhe engrossando a comida, levando-o a conhecer realidades mais profundas e sérias (1 C0 3.1). Não basta pronunciar o nome de Jesus como um mantra (At 19.15).

Deus só usa os humildes: Mt 11.28-30; Sl 51.17. Pedro e João não quiseram receber a glória que pertencia a Deus, pois o mesmo Pedro, que junto com João disse ao coxo, “Olhe para nós”,  ao ver o povo fascinado olhando para eles, repreendeu-lhes, dizendo: “Por que  estais olhando para nós, como se de nossa própria virtude houvéssemos feito isso?” Em seguida começou a apontar a Jesus como o autor do milagre – At 3.4,11,12. Não podemos receber a glória de Deus (Is 42.8; Sl 62.11).

A pergunta que fica é: O que temos para dar? A nós mesmos e nossos projetos cheios de intelectualidade, experiência e capacidade, ou o poder de Deus, como resultado de uma vida primada na doutrina sem adulteração, na comunhão com os irmãos, no partir do pão, e na oração?  Se trocarmos de Deus, isto é, assim como os israelitas no tempo do rei Saul, que escolheram um governante humano, ao invés do Deus do Impossível, porque não o viam, não veremos mais milagres, pois embora sirvamos a um Deus que se esconde (Is 45.15), Ele trabalha em favor dos seus, e realizar milagres é coisa que só Deus pode fazer (Jo 14.11).

  Por Leila Castanha


1Para entender melhor o calendário judeu consulte este site:

2Observação: Para ver o que significa a expressão “em nome de Jesus”,  leia o texto sobre esse assunto clicando no link (a), e para ver o poder do sangue de Jesus (para entender melhor a diferença) clique no link (b), a seguir:
 a) O poder do nome de Jesus 
 b) O poder do sangue de Jesus