COMENTÁRIO ADICIONAL
O MILAGRE DA PORTA FORMOSA
1A hora nona: No
calendário judeu o dia é dividido em 12 horas (Jo 11.9), sendo a parte do dia
dividida da seguinte maneira: Primeira
hora iniciava-se no levantar do sol; Terceira
hora iniciava-se as 9 horas; Sexta
hora iniciava-se ao meio-dia e Nona
hora era a partir das 3 horas da tarde.
Quem era Pedro e João? (At
2.42-47). Dois apóstolos de Cristo, que após sua ascensão pertenciam a uma igreja
sem placas, mas que perseverava na doutrina dos apóstolos, na comunhão, e no
partir do pão, e nas orações. Partilhavam de tudo no templo e nas casas dos
irmãos, com humildade. Estes crentes nada tinham de religiosidade, mas viviam
um autêntico cristianismo: Eram, de fato, seguidores de Cristo. Como
seguidores, imitavam o seu Mestre. Em João 9.1-7 temos o registro do episódio
de um cego de nascença o qual Jesus curara, no entanto, antes de realizar esse
milagre Cristo ensinou aos seus discípulos: “Enquanto
estou no mundo sou a luz do mundo.” (v.5), e em seguida curou o cego. Estes
crentes procuravam brilhar como luzeiros que indicavam o Caminho para Deus, que
era Jesus Cristo. E essa lição deve ser aprendida por nós, cristãos hodiernos,
que ainda estamos no mundo, e nele devemos ser a luz a iluminar as trevas onde
jaz o pecador, a beira do abismo.
Cristo os exortou a ser a luz do mundo: Jo
8.12; Mt 5.14; Jo 15.14. Aqueles crentes
haviam entendido que ser cristão é seguir (imitar) a Cristo. Jesus nunca se
mostrou indiferente aos sofrimento de alguém, fosse por doença, perdas ou
preconceitos. Ex. A viúva de Naim;
Marta e Maria na morte de Lázaro; A mulher que derramou perfume nos seus pés; A
samaritana; os publicanos; a Zaqueu e o demais publicanos; ao ladrão da cruz,
etc. A Igreja de Cristo, tem por missão amparar os rejeitados (Tg. 1.27;Jo
6.26; 7. 24).
Não se pode esconder a luz: Em
Mt 5.14-16 Jesus chama a atenção dos seus discípulos dizendo-lhes que não há
sentido acender-se uma lâmpada e escondê-la (v.15). A luz só tem utilidade onde
há treva, pois em um lugar claro não há necessidade dela. Quando ficamos querendo
brilhar somente dentro da igreja, entre os irmãos não estamos sendo úteis,
Jesus nos chamou para iluminar o mundo que está sob as trevas do pecado.
Exemplo prático: Certa
ocasião eu estava em uma igreja e, após o término do culto, alguns irmãos
manifestaram ao pastor seu desejo de evangelizar e visitar alguns irmãos em
suas casas, juntamente com ele. O pastor então lhes respondeu: “Não posso
porque quando não há culto em nossa igreja eu visito outras”.
Esse
servo de Deus não compreendeu ainda a importância de sua missão. Assim como o
general Patton (EUA), que, segundo a história, lutou na segunda guerra , mas em
um determinado tempo ele passou a amar a guerra pela guerra. Do mesmo modo, há muitos
cristãos que amam a obra pela obra, mas não compreendem qual é o objetivo dela:
Amam pregar, orar, cantar, jejuar, mas não amam a misericórdia, conforme exorta
Miquéias (6.8). Não se preocupam com os necessitados (Tg 1.27), e não se
importa com os perdidos (Lc 9.10).
A
Igreja tem que ser o pronto-socorro de Deus. Tem que ter sempre médicos e
enfermeiros a postos, pronto para aliviar as dores, e curar as feridas, físicas
e emocionais, porque se não fizermos os bares e os becos de drogas tomarão o
nosso lugar, com suas esmolas, que todos os dias, os desiludidos irão buscar. E
mais do que isso, ainda tem que ter socorristas externos, a exemplo dos paramédicos
que vão até as vítimas, quando estas correm perigo, podendo não ter tempo de
chegar ao hospital com vida, ou em condições razoáveis para continuar o
atendimento hospitalar.
A porta chamada Formosa: Em
Jerusalém havia várias portas, segundo lemos em Neemias 3, que fala de doze. No
templo que Pedro e João estavam indo para orar, havia uma porta chamada Formosa.
Ela tinha cerca de 25 metros de altura e era coberta de ouro e de prata. Essa porta levava a outra que dava acesso ao pátio
das mulheres no templo de Salomão, e por meio dela adentrava-se ao pátio do Santuário, e posteriormente, ao lugar santíssimo, onde somente o sumo sacerdote podia entrar.
Só os cristãos podem fazer o
seu trabalho: Pedro e João estavam indo ao templo e
depararam-se com esse mendigo, que era coxo de nascença, e todos os dias alguém
o levava para mendigar naquele local. Ele contava com a ajuda de amigos, mas o
máximo que aqueles podiam fazer era levá-los a porta (perto da bênção), porque
só os servos de Deus podiam lhe dar uma nova chance de vida, pelo poder do nome
de Jesus. Ele só entrou no templo junto com Pedro e João. Quantas pessoas que
fazem excelentes e belos trabalhos de caridade, mas não conseguem encher o
coração dos seus beneficiados de alegria e de paz. Trazer as pessoas para
dentro da bênção é trabalho da Igreja.
Aquela
porta era um local estratégico para se levar um mendigo porque para os judeus
ortodoxos dar esmolas era um ato que lhes rendia prestígio. Todos os dias o coxo via religiosos entrando e
saindo, alguns lhe davam uma esmola e iam embora, no entanto, apesar das
esmolas lhe ajudarem não resolvia o seu problema, pois sendo coxo, o seu destino
era mendigar para sempre.
Mas,
quando Pedro e João subiram as escadas do templo eles perceberam que aquele
homem precisava de algo mais: Aquele coxo precisava ser liberto daquela prisão
a que estava condenado. Ele precisava não de uma ou de mil moedas, mais de uma
mudança radical de vida. Assim como Cristo, que repreendeu a multidão que ia
atrás dele só para comer, os dois discípulos tinham consciência que se aquele
coxo recebesse esmolas somente, mas não tivesse a ação sobrenatural do Espírito
em sua vida, da mesma maneira que quem come o pão material, depois torna a ter fome, dia após dia, aquele
homem iria voltar à sua miséria. Então “Pedro, com João, fitando os olhos nele
disse: Olha para nós.” O homem esperava que fosse ganhar alguma coisa, afinal
eles iam para o templo, eram religiosos. E Pedro continuou: “Não tenho prata
nem ouro (bens materiais), mas o que tenho (bens espirituais), isto te dou: Em
nome de Jesus Cristo, levanta e anda” – At 3.4-6).
Pedro e João precisavam crer
no que faziam – Mc 16.17 “Estes sinais seguirão aos que
crerem: Em meu nome (...) curarão os enfermos (...)”. Pedro, no início de sua
fé era um crente vacilante: Sua fé oscilava o tempo todo. No episódio em que
ele pede a Jesus para andar sobre o mar, ao sentir o vento forte (formando
ondas sob os seus pés), ele teve medo e começou a afundar. Ao gritar por
socorro, Jesus o salvou e disse-lhe: “Porque duvidastes? Homem de pequena fé” (Mt 14.25-31). Em outra
ocasião ele promete que se fosse preciso ele seria preso ou até morreria com Cristo,
no entanto, ele estava disposto a matar os soldados que foram prender Jesus,
mas não a morrer com ele. Marcos narra (15.53,54) que Pedro o seguia de longe, e no pátio do lugar onde Jesus
estava Pedro sentou-se quietinho, mas alguns o reconheceram (pois ele vivia o
tempo todo ao lado de Jesus), e sua reação, diferente do que dissera antes, foi
negá-lo. Ao lembrar-se da previsão de Cristo sobre a sua inconstância (três
vezes você me negará), Pedro chorou.
A
verdade era que Pedro amava a Cristo, mas não era convertido (Lc 22.32).
Converter é mudar, e Pedro tinha de mudar a sua maneira de pensar e agir. A
valentia do crente é diferente da do mundo, “porque não temos que lutar contra
a carne e o sangue, mas, sim contra as os príncipes das trevas deste século,
contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais”.(Ef. 6.12). O
mundo tem coragem de dar o troco, o crente tem que ter coragem para dar o outro
lado e perdoar. O mundo tem coragem de reagir à afronta, o crente tem que ter
coragem para ser manso diante das injustiças. Pedro era coragem, mas nos termos
do mundo, no entanto, após ser cheio do Espírito Santo sua ousadia foi
direcionada para o mundo espiritual: Exatamente o que Jesus queria que ele
entendesse, ao dizer: ”Quando te converteres...”.
O coração de Pedro e João
não estava nas coisas daqui, diferente do que temos
observado em nossos dias, como há igrejas que se enchem devido a promessas de conquistas
materiais: carro, casa, casamento e muito dinheiro no banco. No entanto, Jesus
exortou aos seus discípulos que buscassem primeiro
o Reino de Deus, e tudo o que precisassem lhes seria providenciado. Em seguida,
concluiu: “Porque onde estiver o vosso tesouro ali estará o vosso coração”.
O
Evangelho de Cristo não é de ajuntamento de tesouros terrenos, mas é baseado na
coragem de renunciar o que vemos e compreendemos no nosso mundinho, em troca de
algo que o olho não viu, e nunca subiu ao coração do homem (Lc 14.33; 1 o 2.9).
Devemos renunciar não só a matéria (coisas visíveis), mas também o nosso modo
de ver o mundo e as pessoas, porque Jesus deixou claro: “O meu Reino não é
deste mundo”. (´Jo 18.36). Temos que ver pela fé, como Moisés que cria na
promessa de Deus de que libertaria o povo de Israel “como quem via o invisível”
(Hb. 11.27).
.O crente tem que fazer a diferença:
Imagine se Ester não fizesse nada pelo seu povo porque temia ser morta ao ousar
falar com o rei sem ser chamada? Os judeus estariam extintos. Foi a fé, que
levou àquela mulher a ter ousadia, e deu-lhe coragem para utilizar-se da
oportunidade de ter acesso ao rei, ainda que fosse a única coisa que fizesse em
sua vida – Ester capítulos 4 e 5. Também foi a fé aprendida em sua terra natal,
que fez a garotinha judia que fora levada como escrava para a Síria, e ali
servia à mulher do general Naamã, falar que em Israel havia um profeta de Deus
chamado Eliseu, e que se seu senhor fosse até ele seria curado de sua lepra. Apesar de Naamã ser poderoso em sua terra, a
fé da menina lhe deu ousadia de testemunhar do poder do Deus de Israel. Pense
em Neemias com medo de Sambalate e Tobias, recuando na construção do muro, mas,
ao contrário disso, ele pediu força a Deus e não parou até concluir a obra.
O coxo olhou para eles esperando receber
alguma coisa, talvez porque, sendo eles religiosos, era
correto ajudar. O que nós temos para oferecer para o mundo? Só palavras bonitas
e frases feitas? Tiago diz que a fé sem as obras é morta, por isso de nada
adianta dizer a quem passa fome ou frio: “Vai em paz”, sem antes alimentá-lo e
agasalhá-lo (Tg 2. 14-17). Jesus, nunca deixou ninguém sair de seus sermões com
fome (Mt 14.13-21). Somos a religião do lero-lero, a igreja das teorias, mas a
prática, que autentica a fé, nos tem faltado!
Exemplo prático: Um
jovem de determinada igreja saiu pelas ruas, convidando os transeuntes
(especialmente jovens) a irem assistir a uns cultos em sua igreja. Ele
dizia-lhes que em um determinado dia era culto para quem queria milagres, em
outro, o culto era a favor de prosperidade financeira, e em outro dia era para comunhão
(haveria uma baladinha na igreja e, por isso, podia-se fazer amigos). Mas, em nenhum momento
apresentou o dia para quem queria, simplesmente, encontrar a Jesus. O tempo
todo foi apresentado trabalhos que visavam as necessidades materiais do homem,
mas se esqueceram do principal: Nossa necessidade de salvação, isto é, de comunhão com Deus, só Cristo preenche.
Exemplo prático: Em
certa ocasião, congreguei em uma igreja na qual não estava mais comportando o
número de pessoas no trabalho de Escola Dominical. Então pedi ao pastor para
ver se conseguíamos permissão para levar nossas classes para uma escola pública
que ficava próxima à igreja. Ficamos lá por, mais ou menos, dois meses, e comecei
a ouvir reclamações de alguns obreiros dizendo que não era um bom lugar para
pessoas de família cristã frequentar, por ser um lugar onde havia muita gente
não crente (inclusive alguns usuários de drogas), que, aliás, apoiavam muito o trabalho
e, alguns deles, inclusive, manifestaram o desejo de assistir aos ensinamentos
conosco. Argumentei com tais pessoas sobre a ordem de Jesus que determinava que
seus discípulos fossem fazer
discípulos e fossem pregar o
Evangelho. Tentei explicar-lhes que não se pesca em aquário, mas para pescar
tem que ir aonde tem peixes. Lembrei-lhes que Jesus ensinou que o campo é o
mundo, e não o interior de um templo. O templo é o nosso quartel general, onde
os soldados de Cristo se preparam, revestindo-se das armaduras sagradas e
organizando-se como exército, esquematizando, sob a direção do Espírito, nossa
tática de ataque. A Igreja é lugar de nos preparar, como Igreja, e levar os
refugiados dessa guerra contra o Inimigo.
O
pastor argentino, Juan Carlos Ortiz, ironiza tais óticas anticristãs dizendo que, ao invés de cantarmos: “Vem já, vem já,
alma cansada vem já”, devíamos cantar: “Vão já, vão já, ó assentados vão já!”.
Porque a ordem de Cristo é “Ide”.
Cristianismo é uma religião de prática- Jesus
repreendeu os fariseus de seu tempo dizendo-lhes que eles eram cuidadosos em
cumprir rituais internos, mas se esqueciam da verdadeira missão, que consistia
em amar o próximo, pois davam o dízimo de tudo, mas não ajudavam os
necessitados, quando deviam fazer isto, sem desprezar aquilo (Mt 23.23).
Talvez
queremos Deus como nosso gênio da lâmpada: Ele
deve ser tudo para nós, mas não tudo em nós. É por isso que o citado pastor
comenta, em seu livro, que muitos pastores, durante o culto, fazem tudo pensando
no povo: Cantam em pé, depois sentados, alternam o culto com testemunhos, depois
oração, etc , para não cansar o povo.
Nossa visão está limitada ao terreno, pois onde o Espírito Santo está todos
ficam presos e fascinados pela sua presença, e nem sentem a hora passar.
É
por causa de nossa falta de vivência cristã que nossas igrejas se enchem com a
mesma rapidez com que esvaziam: Buscamos auditório, enquanto as pessoas que
adentram o templo buscam uma família. Sem amor, não há cristianismo, veja a
ordem de Cristo aos discípulos (Jo 15.17).
Precisamos de crentes convertidos: Pedro
amava a Jesus e estava nele, no entanto, não podia dizer como o apóstolo Paulo:
“Cristo vive em mim” (Gl 2.20), porque isso só acontece quando nós estamos
crucificados com Ele. Precisamos estar em Cristo, e Cristo em nós (Jo 15.4,5).
O materialismo tem tomado o coração dos
cristãos: Conta-se que, certa vez o papa mostrou a Tomás de Aquino
a igreja toda coberta em ouro, e luxuosamente adornada, e disse-lhe: “Olhe
isso, Tomás! Hoje não podemos dizer como Pedro: Não temos prata, nem ouro.”. Em
seguida, enquanto olhava para aquele luxo, Tomás de Aquino respondeu-lhe: É
verdade, mas também não podemos mais dizer: “Em nome de Jesus, levanta e anda.”
2Em nome de Jesus, foi
a expressão usada por Pedro ao ordenar o milagre. Pela autoridade do nome de
Cristo, o homem foi restaurado, mas como nunca havia andado, Pedro o ajudou a
ficar de pé. Diferente de muitos cristãos atuais que acham que o novo convertido
tem que se virar sozinho. É por isso que perdemos tanta gente, pois assim como
um bebê não tem condições de se manter sozinho, um novo convertido é um bebê na
fé, e vai precisar que a Igreja lhe sustente, primeiro, com o leite espiritual,
e aos pouco, vai lhe engrossando a comida, levando-o a conhecer realidades mais
profundas e sérias (1 C0 3.1). Não
basta pronunciar o nome de Jesus como um mantra (At 19.15).
Deus só usa os humildes: Mt
11.28-30; Sl 51.17. Pedro e João não quiseram receber a glória que pertencia a
Deus, pois o mesmo Pedro, que junto com João disse ao coxo, “Olhe para nós”, ao ver o povo fascinado olhando para eles,
repreendeu-lhes, dizendo: “Por que estais olhando para nós, como se de nossa
própria virtude houvéssemos feito isso?” Em seguida começou a apontar a Jesus
como o autor do milagre – At 3.4,11,12. Não podemos receber a glória de Deus
(Is 42.8; Sl 62.11).
A pergunta que fica é: O
que temos para dar? A nós mesmos e nossos projetos cheios de intelectualidade,
experiência e capacidade, ou o poder de Deus, como resultado de uma vida
primada na doutrina sem adulteração, na comunhão com os irmãos, no partir do
pão, e na oração? Se trocarmos de Deus,
isto é, assim como os israelitas no tempo do rei Saul, que escolheram um governante
humano, ao invés do Deus do Impossível, porque não o viam, não veremos mais
milagres, pois embora sirvamos a um Deus que se esconde (Is 45.15), Ele
trabalha em favor dos seus, e realizar milagres é coisa que só Deus pode fazer
(Jo 14.11).
Por Leila Castanha
1Para
entender melhor o calendário judeu consulte este site:
2Observação: Para
ver o que significa a expressão “em nome de Jesus”, leia o texto sobre esse assunto clicando no link (a), e para ver o poder do sangue de Jesus (para entender melhor a diferença) clique no link (b), a seguir:
a) O poder do nome de Jesus
b) O poder do sangue de Jesus
a) O poder do nome de Jesus
b) O poder do sangue de Jesus
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