terça-feira, 11 de agosto de 2015

QUAL A IDEIA FUNDAMENTAL DA RELIGIÃO?


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O QUE PENSA O INDIVÍDUO MARGINAL PERIFÉRICO?

   A principal ideia da religião é aproximar o homem de Deus. No dicionário Aurélio é apresentada como: "Crença na existência de forças sobrenaturais; ou manifestação de tal crença pela doutrina ou ritual próprio, devoção". A religião é o exercício que visa aproximar o homem ao sobrenatural. Uns creem que essa dimensão sobrenatural são apenas forças cósmicas que estão em tudo, em toda a matéria, e a prática religiosa consiste em absorver parte dessa energia contida no âmago da matéria. Outros creem que existem várias divindades, e para nos aproximarmos das tais, devemos oferecer-lhes atributos para agradá-las e, consequentemente, aplacar sua ira.
   Mas a ideia mais difundida da religião e o seu sentido, para a maioria das pessoas periféricas do Brasil, é que existe um ser superior a quem chamamos de Deus e o culto devocional a esse ser com louvores, adoração, gratidão (ação de graça) e petições é o verdadeiro significado da religião em si; ou seja, no senso-comum, é a adoração a um Deus superior a tudo e a todos, conhecido por sua grandeza, mas a par das formalidades e até mesmo pela sua superioridade reverenciada, está distante de todos; e que responde as petições de alguns de acordo com sua inquestionável disposição e vontade.
Essa ideia concebida pelo marginal periférico, em sua maioria, do que é religião, cai em contradição com o seu principal baluarte de fé. Esse aglomerado de pessoas que elegem Deus como o ícone de sua religião, os chamados cristãos, tem como base para sua fé a Bíblia, o seu livro sagrado.  A Bíblia,no que se refere à religião e o seu sentido, destoa da massa periférica e deixa um texto bíblico para exemplificar a discrepância entre a forma atual de como é interpretada a religião e a forma que a Bíblia ensina.
Tiago 1.26,27 –(v.26) “Se alguém entre vós cuida ser religioso e não refreia a sua língua, antes, engana o seu coração, a religião desse é vã”;
(v.27) – “A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas em suas tribulações e guardar-se da corrupção do mundo”.
O que fica claro nesse texto é que a religião, longe de ser apenas uma vaga exaltação a Deus com palavras, rezas ou orações vazias e formalizadas como avistamos hoje nas igrejas e nos tele cultos, a verdadeira religião é observar-se a si mesmo, é preocupar-se em conhecer as estruturas que permeiam nossa subjetividade, e, depois desse exame reparador, agir, não em prol das minhas aspirações pessoais, mas transformar as necessidades do próximo em alvo para a minha ação; a verdadeira religião para o Deus da Bíblia é quando um ser se satisfaz com a realização de outro indivíduo. A verdadeira religião segundo as Sagradas Escrituras é amar a Deus e ao próximo como a nós mesmos; essa prática de amor vale muito mais do que holocaustos e sacrifícios (Mc 12.28 e 34).
Mas a religião praticada perifericamente está longe de ser fundamentada no amor, pois o que é praticado hoje, tanto nos templos cristãos como em outras formas de cultos, é o sacrifício como elemento principal  para agradar e entrar em contato com Deus, ou seja lá qual for a divindade, a abstenção como forma de purificação para absorver alguma forma de virtude ou energia sobrenatural, e ações legalistas e enrijecidas para alcançar uma espécie de  santificação; eis a lógica da religião periférica. E, portanto, nessas ideias concebidas e comentadas, é desprezada a verdadeira forma da religião e como através dessas atividades chegaremos à santificação e consequentemente à comunhão com Deus.
A santificação, diferente do que pensa a maioria, não está na forma visível e não começa com atitudes legalistas. Ela começa com uma observância interior em nossa própria vida. O que quero? O que é Deus para mim? Desejo realmente abençoar meu próximo? Qual é o real valor da religião que pratico? Será que tem valor? Realmente acredito no que declaro acreditar?
A partir desses questionamentos, chegando à conclusão se acreditamos ou não no que confessamos, se a resposta for negativa, deveremos procurar a lógica de tudo isso, se for positiva a primeira atitude deverá ser a de nos ajustarmos aos preceitos que permeiam a crença que confesso acreditar.
Entendo que a religião, antes de ser social, deve ser individual, antes de fazer parte de uma corporação devo entender que sou um membro, um cidadão enquadrado em um meio e que preciso saber quem sou para depois entender o que fazer. Devo conhecer e entender com propriedade o alvo do meu culto, devo, nesse culto, derramar individualmente meus questionamentos, medos, dúvidas, a fim de que nessa prática intimista – eu, “ser individual”, possa conhecer melhor o Deus da minha fé, para depois, como comunidade, poder passar a ensinar para o próximo o que aprendi no exercício individual da busca de Deus e de suas respostas.
O indivíduo, antes de ser um integrante de uma determinada religião, é alguém em sua subjetividade que precisa crescer, conhecer-se, para depois, em sua maturidade, agir ou determinar uma função específica para si.
A ideia estabelecida hoje é a ideia de grupos onde nesse meio o indivíduo perde sua individualidade para ajustar-se à massa. Essa é a ideia marginal periférica mais difundida do que é religião.
Religião, ao contrário desse pensamento, não é uma comunidade que busca e adora um deus; religião verdadeira são indivíduos que, em suas buscas, encontram Deus, que por si mesmo se oferece e permite-se ser achado, portanto, entendendo os preceitos divinos se ajuntam para compartilharem a descoberta e a graça alcançada por esse Deus tão almejado. A partir dessa certeza, de se ter encontrado Deus, “individualmente”, os cidadãos se ajuntam em comunidades (ou seja: reunidos, mas cada um em sua subjetividade) para com isso se ajustar uns aos outros na forma ideal de seguir a esse Deus.

“Existe o perigo de que os verdadeiros cristãos, que sabem que o cristianismo não é um assunto meramente particular, reajam contra o erro, transpondo nossa vida espiritual o mesmo coletivismo que já conquistou nossa vida secular.” (C. S. Lewis).

Por Lailson Castanha

OBS.:  A filosofia marginal periférica, é o modo como a comunidade da periferia, que está a margem do saber escolástico, entende certas questões comuns da vida, como por exemplo, "o que é a religião". 

(Extraído da apostila do autor do texto - “Filosofia Marginal Periférica – Ensaio sobre a filosofia marginal. Observação: O autor é graduado em filosofia).

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