segunda-feira, 4 de maio de 2020

EDIFICAÇÃO DA PERSONALIDADE ÉTICA: UM ALERTA



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O amor aceita tudo, dizem às vezes. Cautela! Não são raras as ocasiões nas quais, exatamente por amar, é que não devemos aceitar algumas atitudes.
Existe uma diferença significativa na vida, quando se pensa na relação com os outros, entre compreender e aceitar. Uma pessoa só pode aceitar ou rejeitar algo ou alguém depois de o ter compreendido.
No entanto, o fato de eu compreendê-lo e, portanto, por exemplo, também amá-lo, não significa que eu aceite o que você faz. Aliás, o amor pressupõe, inclusive, a capacidade de discordar daquele a quem se ama. A discordância é um sinal de amorosidade, quando feita com respeito. Se eu vivo com alguém que sempre concorda comigo em tudo que eu faço, é sinal de que talvez essa pessoa não se importe tanto comigo. Cuidado com gente que concorda com você o tempo todo. Claro, você não pode conviver com alguém que só discorda. Mas alguém que só concorda lhe deixa estacionado.
Quantas vezes meus filhos discordam de mim e eu discordo deles? A discordância respeitosa é sinal de amorosidade. Agora, quando eu digo “Eu amo você, mas discordo disso que você está fazendo”, isso dá substância ao amor.
Qual a boa frase? “Eu compreendo até que você faça, quero ajudá-lo a parar de fazer isso, mas não aceito que você faça. Não significa que eu o abandone mas significa que eu não quero que você faça e estarei junto de você para que deixe de fazê-lo, porque o que você faz é errado.”
Se você está fazendo algo que é certo, eu não só compreendo, como aceito. Se aquilo que você faz é equivocado, lhe aceito, mas não aceito o equívoco. Eu te amo, mas não aceito o que está errado. É a clássica frase que algumas religiões usam: “Não esqueça de amar o pecador, mas rejeite o pecado”.
É como o médico bom. Ele aprecia o doente, mas não aprecia a doença. Ele gosta do doente, mas não da doença. Ele vai falar para você. “Pare de fazer isso. O seu colesterol está alto. Você está acima do peso, e eu não quero que continue engordando. Eu lhe estimo e você vai reduzir alimento calórico, diminuir a ingestão de fritura, vai ter de andar mais. Sabe por que estou dizendo isso? Porque eu lhe respeito. Porque, se eu não lhe respeitasse, seria indiferente”.
Como pais e mães, podemos sim dizer: “Aqui estou, quando você mudar de postura e achar que é a hora do apoio, estarei lhe esperando, mas não me obrigue a engolir aquilo que é errado apenas porque eu lhe gerei. O fato de eu ter lhe gerado me dá responsabilidade sobre você, mas essa responsabilidade não é ausente de deveres da sua parte e da minha. Um dos seus deveres e um dos meus é cuidarmos reciprocamente um do outro. O que você está fazendo, eu imagino, jamais aceitaria que eu fizesse. Não tenho dúvida de que você diria para mim: ‘Eu o amo, pai, mas não aceito isso que você está fazendo’”.
“Faça o que quiser da sua vida”. Esta frase é a do desamor, não a frase do amor.

Mario Sergio Cortella
(Extraído de “Não se desespere – provocações filosóficas”).

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