O INÍCIO DO GOVERNO HUMANO
O motivo do Dilúvio foi
a propagação do pecado. Por não comungar com a desobediência do homem as suas
leis, e dar-lhe chances de se arrepender de seus pecados (transgressões à lei
divina), Deus decidiu destruir toda a raça humana. No entanto, por ser justo,
quis salvar Noé e sua família, ainda sabendo que ele era o único ser humano que
lhe obedecia (Gn 7.1).
O tempo de duração do dilúvio (Gn 7.6,11; 8.13): Devido ao dilúvio (quarenta
dias e quarenta noites de chuva constante), as águas prevaleceram sobre a Terra
por quase um ano, pois ao entrar na arca, Noé tinha seiscentos anos de idade, e
ao sair ele estava com 601 anos.
O pacto de Deus com Noé: Após
Deus destruir a primeira civilização, Ele fez um acordo com Noé, dizendo-lhe
que nunca mais destruiria o mundo com inundação. Para que a nova geração não
tivesse medo de um novo dilúvio, Deus deixou um sinal: um arco, que conhecemos
como “arco-íris”. Cada vez que chovesse muito, o arco-íris apareceria para que
o homem não tivesse medo de um novo extermínio por meio das águas (Gn
9.13,14).
O início do governo humano (Gn 9.6): Após
o dilúvio, fazia-se necessário recomeçar uma nova civilização, já que a
primeira havia sido destruída pelas águas. Daquela geração só sobraram Noé e a
sua família, além dos animais que entraram, de dois em dois, na arca. Agora os
sobreviventes deveriam povoar a Terra, formando assim uma nova sociedade. Como
Deus não suporta o pecado (desobediência as suas leis), desta vez, Ele instituiu
leis, a fim de que o homem não se perdesse novamente, guiados pelos seus
pecados.
O
homem deveria regrar os seus atos de acordo as ordenanças que recebera de Deus,
e se isso não ocorresse o governante teria de punir o transgressor. Desta
forma, foi instituído o primeiro governo humano.
De quem foi a ideia de estabelecer um
governo humano: Em Romanos 13. 1 observamos algumas verdades
concernentes à lei e ao governo humano. A primeira diz respeito à importância dos
governantes: No versículo 1 lemos que as autoridades procedem de Deus e foram
ordenadas por Ele. Ao dizer que toda a potestade (as autoridades) veio de Deus,
e foram instituídas por Ele, não significa que todo governante foi predestinado
por Deus para ser eleito àquele determinado posto. O que o apóstolo Paulo quis
dizer é que o governo (a instituição governamental) foi ordenado por Deus, isto
é, a ordem para o estabelecimento do governo humano veio de Deus, e não foi uma
invenção humana.
Para
que serve o governo e as leis: Em seguida, observamos que o
estabelecimento do governo humano tem por finalidade a manutenção da lei e da
ordem. O governante (potestade), foi instituído por Deus para agir como um
representante da justiça, por isso deve usar a lei para refrear o mal, punindo
os transgressores, a fim de que o delito cometido por ele não seja copiado (Gl
3.19-23). Ao mesmo tempo, para as pessoas honestas, a lei serve-lhe de guardiã,
protegendo-as dos delinquentes (v.4; 1 Pe2. 13-17).
Enquanto
ainda não temos a lei de Cristo gravada na tábua do nosso coração, precisamos
da lei (que também provém dele) - Sl
119. 11; Pv 7. 1-3 - para que o mundo não
vire um caos.
Como deve ser o governo humano: Sendo
Deus o autor desta instituição, ele também deu as regras: o governo humano deve
ser justo, a ponto de que o governante faça aos seus súditos aquilo que
gostaria que lhe fosse feito (Mt 7. 12). Aliás, a hipocrisia foi o grande motivo de Jesus combater o farisaísmo. Os fariseus eram homens respeitados pela camada popular, como sendo santos (fariseu significa "separado"), no entanto, embora fossem para muitos judeus uma autoridade espiritual, Jesus os denuncia dizendo que não passavam de hipócritas (fingidos), e adverte seus discípulos a ouvirem o que dizem, mas jamais fazerem o que fazem, pois colocavam pesados fardos sobre os ombros do povo (leis difíceis de serem cumpridas) , mas eles mesmos não se davam o trabalho de carregá-los (Mt 23.3,4).
O governo no Antigo Testamento: Deus
jamais destituiu a religião do estado. Isto porque o governo visava prezar pelo
cumprimento de suas leis, que, de acordo com o salmista, é perfeita (ou reta) -
(Salmos 17. 8-11). Houve governantes que foram homens piedosos, tementes a Deus,
e governou o povo com justiça. Esse foi o caso, por exemplo, do rei Ezequias, de quem a Bíblia fala que foi o homem que mais
confiou no Senhor (2 Cr 29. 1,2; 18. 5).
Mas,
também houve homens que fizeram o que era mau aos olhos do Senhor. Homens que
foram maus governantes e fizeram o povo se desviar das leis de Deus (1 Rs 16.
13; 2 Rs 14. 23, 24; 2 Cr 36. 5, etc).
Deus
usa os governantes (detentores da lei), para fazer valer a Sua vontade (Gn 41.
38-44; Et 8. 10-17. Is 44. 28; Es 1.1-3;).
Devemos obedecer às autoridades: Sabendo-se
que o governo foi estabelecido para manter a lei e a ordem, a Bíblia ordena que
nos sujeitemos a ele (1 Pe 2. 13; Tt 3; ). Embora observemos que Deus
utilizou-se dos governantes para fazer aquilo que lhe apraz, é evidente também
que ele agia sem alterar o curso da história, isto é: não houve rebelião dos
seus servos contra seus governantes, mas Deus lhes deu sabedoria e estratégia,
para que, apesar de sua sujeição achassem graça diante deles. Observe como eram a postura de Ester diante de seu rei: (cp 5 e 6); ou de Neemias (2.3,5).
Mesmo
na época da escravatura, embora Jesus, bem como os seus discípulos, pregavam
contra isso, em sermões como o de Mateus 23.11, 12,na qual Jesus ensina que
todos devem servir um ao outro, e o mais humilde será o mais exaltado no Reino
de Deus. Em Galátas 6.2, o apóstolo aos gentios (Paulo), ensina que devemos
levar a carga uns dos outros, e explica que é assim que cumprimos a lei de
Cristo. E qual é a lei de Cristo? O amor (Jo 15. 12). Nessa lei, Cristo
especifica que devemos amar ao próximo assim
como ele nos amou. E como foi que nos amou? Dando a sua vida pela nossa.
Nada parecido com a relação senhor e escravo,não é?
Em Colossenses 4. 1, Paulo admoesta aos
senhores que tratem os seus servos (ou escravos) com justiça e equidade
(retidão), lembrando-se que também possuem um senhor no céu. Tratar alguém com
justiça, ou de forma correta (retidão), não é o tratamento convencional de um
senhor para um escravo, pois a justiça cobra que “o trabalhador é digno do seu
salário” (Lc 10.7; 1 Tm 5. 18).
O
escravo é visto como um ser desprezível, e sem valor, no entanto, a admoestação
bíblica é que nos consideremos inferiores aos outros, e deixa-nos como exemplo o
próprio Cristo (nosso senhor), que, sendo Deus, humilhou-se na forma de homem,
e morreu de forma vergonhosa por amor a sua criatura ( Fp 2. 3-8).
Mesmo
tendo uma concepção contrária à escravatura, o apóstolo Paulo conheceu um
escravo fugitivo, a quem ganhou para Cristo, e, sabendo que pertencia a seu
cooperador, Filemon, não abusou de sua autoridade sobre ele, mas lhe pediu que
o recebesse de volta e não lhe fizesse mal algum. A um escravo fujão, a lei
permitia que fosse morto. Também era
comum que sendo pego, o escravo levasse muitas chibatadas em público, até ficar
a beira da morte, para servir de lição aos outros, a fim de que também não se
rebelassem.
No
entanto, a admoestação de Paulo ao seu amigo e cooperador Filemon que, a
exemplo de muitos outros cristãos, possuía escravos, era de que ele não agisse
conforme lhe permitia a lei do estado, mas de acordo com a lei de Deus (o
amor).
Paulo
tinha autoridade espiritual sobre Filemon, pois ele o ganhou para Cristo, da
mesma forma que ganhou a seu escravo, no entanto, ele deixou claro que, apesar
de possuir autoridade espiritual sobre o seu cooperador, e, por isso, poder lhe
ordenar o que convém fazer, ele preferia pedir-lhe, porque reconhecia sua
autoridade sobre o escravo (Fm 8-14).
Da
mesma maneira, Paulo reportando-se aos escravos exortava-lhes: “Vós servos,
obedecei em tudo, a vossos senhores” (Cl 3.22).
Jesus respeitava as autoridades, bem
como a lei: ao ser indagado se veio revogar (anular) a
lei Jesus respondeu que veio cumpri-la (Mt 5. 17). Jesus ensinava seus
discípulos a obedecer os governantes, motivo este de muitos judeus, até hoje,
não crerem que ele é o Messias que Deus havia de mandar, pois eles esperavam um
revolucionário que os libertasse do governo de Roma.
Ao
ser questionado se os judeus deviam pagar impostos a Roma, Cristo perguntou-lhes
de quem era a efígie gravada na moeda, ao que lhe disseram ser do imperador romano,
cujo título era César, então Jesus respondeu: “Dai a César o que é de César” ( Mt
22. 17-21).
Ao
ser interrogado por Pilatos Jesus mantém-se respeitoso, e a única pergunta que responde
foi a acusação que dizia respeito a autodenominar-se rei dos judeus (acusação grave
contra o Império). Ele, porém, responde
a Pilatos (procurador romano,
responsável por julgar crimes que afrontavam ao império romano): “Tu dizes”,
isto é, “Você tá dizendo”. Depois disso, apesar das acusações que lançavam contra ele, Cristo manteve-se calado (isso não soou desrespeitoso a Pilatos), antes, o procurador dos césares se maravilhou com sua postura (Mc 15. 1-5).
Observação 1: efígie ou esfinge: É a figura estampada na
moeda.
Observação 2: César: Assim
como Faraó, e Herodes, César era um
tiítulo pertencente aos imperadores romanos. Assim temos vários césares:
Augusto César, Tibério César, Júlio César, etc.
Paulo,
que aprendeu com o Mestre Jesus, ensinou a mesma coisa (Rm 13. 5-7).
Obedecer tem limite: Apesar
de a Bíblia nos exortar a obedecer às autoridades constituídas, observamos que
os servos de Deus não se sujeitavam aos governantes quando suas leis lhes
conduziam a desobedecer a Deus. Foi assim com Daniel e seus três amigo, que
preferiram ser condenados à morte a adorar outros deuses, pois sabiam que a
adoração a ídolos era um pecado que Deus não tolerava. O mesmo aconteceu com
José, que apesar de poder se aproveitar de seu posto na casa de seu senhor, onde era
mordomo, rejeitou deitar-se com a mulher dele sob a única alegação: “Como
eu faria esse tamanho mal e pecaria
contra Deus?” (Gn 39. 6-12).
No
Novo Testamento temos muitos casos de homens que perderam sua vida para não
desonrar a Deus, ao cumprir uma ordenança que feria os seus preceitos. Nesta
lista vemos Estêvão, Tiago, João Batista, Paulo, dentre muitos outros.
Pedro,
ao ser repreendido pelo sumo sacerdote por continuar anunciando o nome de
Jesus, replicou: “Mais importa obedecer a Deus do que aos homens” (At 5. 29).
Este versículo tem sido mal interpretado por muitos cristãos que, pensando ter
supremacia sobre sua vida, negam-se a obedecer às autoridades (governamental,
espiritual, trabalhista, pedagógicas, etc).
Ao dizer
tais palavras, Pedro estava tendo em vista, pelo menos, duas coisas: Primeiro,
ele estava falando com uma autoridade espiritual (sumo sacerdote), um homem que
conhecia bem a Palavra de Deus, cuja instrução aponta para que a supremacia de
Deus esteja acima de toda a autoridade humana, e as leis instituídas pelos
governantes devem honrá-lo.
Em
segundo lugar, Pedro estava falando uma frase da autoria do filósofo grego,
Sócrates, que era muito conhecida entre os eruditos. Pedro vivia na época do Império Romano, e os
romanos eram admiradores da cultura grega, de quem herdaram a religião e a
filosofia, dentre outras coisas. A frase usada por Pedro: “Mais importa
obedecer a deus do que aos homens”, era uma paráfrase da frase socrática (de
Sócrates), que, ao ser interrogado, respondeu aos seus acusadores: “Mais
importa obedecer a Deus do que a vós”.
Havia
ali um contexto todo próprio para tais palavras. Não foi uma manifestação de
rebeldia, mas uma expressão de conhecimento histórico (ele não era o primeiro
que defendia seus valores), e uma declaração de sua fidelidade a Cristo. Não é
a toa que, ao verem Pedro e João, dois pescadores, defenderem ousadamente a sua
fé, aqueles homens se admiraram ao saberem que eram indoutos, isto é, não eram
cultos (At 4. 13). Geralmente, as pessoas cultas defendem seus ideais (principalmente
citando frases de indivíduos influentes que coadunam com suas argumentações),
mas Pedro, assim como outros que também andavam com Jesus, não era erudito, porém a influência de Cristo o fez se tornar um homem eloquente.
Devemos obedecer de boa vontade: Sabendo
que as autoridades foram instituídas por Deus para o bem do homem, o apóstolo
Paulo adverte que nos sujeitemos, não apenas pelo castigo que advém da nossa
desobediência, mas pela consciência, ou seja, porque sabemos que isso é bom (Rm
13. 5).
Davi,
inspirado pelo Espírito Santo, no Salmo 32. 8, 9 profetiza: “Instruir-te-ei, e
ensinar-te-ei o caminho que deves seguir; guiar-te-ei com os meus olhos. Não
sejas como o cavalo, nem como a mula, que não tem entendimento, cuja boca
precisa de cabresto e freio para que não se cheguem a ti”. Ou seja, a obediência não deve advir do castigo, mas do entendimento do que é bom e justo.
Conclusão: Ao invés
de nos opor ao governo, a Bíblia nos instrui a orar pelos nossos governantes,
porque isso é agradável a Deus (1 Tm 1.8-10). E, para acabar a necessidade da
lei é preciso que primeiramente o ser humano reaprenda a amar, pois o fim da
lei (regras), e dos profetas (detentores dos mandamentos divinos), é o amor (Rm
13. 10; 1 Tm 1.5).
Mas,
como sabemos que, embora muitos alcançarão a liberdade em Cristo, outros
continuarão a desprezar a suprema lei (o amor), e, por isso. precisarão ser
manipulados, e “estimulados” a obedecer. Para manter a ordem, e evitar o caos,
estão as autoridades instituídas que se servirão da lei para punir os
transgressores, e fazer valer os direitos dos que a cumprem.
Por Leila Castanha
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